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Tendências de Comércio Exterior

Em 2022 as tendências para o comércio exterior incluem novos processos para desburocratizar os procedimentos. Leia o post.

Depois de uma queda acentuada das operações de Comex em 2020 - as exportações caíram 6,1% e somaram US$ 209,92 bilhões e as importações caíram 9,7% e totalizaram US$ 158,93 bilhões segundo o Ministério da Economia - o acumulado de 2021 iniciou uma onda de otimismo para essas áreas.

De acordo com o Governo Federal, o ano passado foi fechado apontando uma corrente de comércio (soma de exportações e importações) recorde de US$ 499,8 bilhões e saldo com superávit – também recorde – de US$ 61 bilhões. 

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia divulgou recorde nas exportações, com US$ 280,4 bilhões. Enquanto as importações chegaram a US$ 219,4 bilhões, o quinto melhor resultado desde 1989.   

A adequação do cenário global continuará em 2022, principalmente pelo impacto da pandemia. Confira, a seguir, as tendências para o comércio exterior e qual será o impacto da tecnologia no setor.

Cenário de tendências no comércio exterior

Apesar do medo e da insegurança gerados pela crise sanitária, surgiu a necessidade de as empresas se adaptarem ao novo cenário. Afinal, o caos força a encontrar novas formas de crescimento e, consequentemente, o aprendizado. 

Diante do cenário atual, a principal tendência para o comércio exterior é a capacidade de adaptação para reconhecer as mudanças que ocorreram e se ajustar ao novo ambiente a partir da mudança e da inovação.

De acordo com as estimativas da OMC, o volume do comércio mundial de mercadorias aumentou 10,8% em 2021, número que chegará a 4,7% em 2022. Para os economistas da OMC, o crescimento será moderado à medida que os negócios retornarem à tendência de longo prazo de antes da pandemia Covid-19.

Para 2022, os números brasileiros também serão mais moderados. A estimativa inicial é registrar exportações de US$ 284,3 bilhões, uma alta de 1,4% em relação a 2021. Já as importações devem chegar a US$ 204,9 bilhões, recuando 6,6% sobre o ano passado. 

Segundo Lucas Ferraz, secretário de Comércio Exterior, em 2022 a economia global e a brasileira vão convergir para um equilíbrio de longo prazo, com taxas de crescimento mais modestas. “Com uma previsão de crescimento moderado para a economia brasileira em relação à do ano anterior, é natural que o valor importado seja menor neste ano, o que reduz também a corrente de comércio”, explica.

Um fator que vai puxar os números das exportações para cima é a previsão de safra recorde em 2022. Com queda de 0,4% em 2021 e uma produção equivalente a um total de 253,2 milhões de toneladas, em 2022 o prognóstico para a safra indica um volume previsto de 277,1 milhões de toneladas. Número que será 9,4% superior ao de 2021. E o resultado pode ainda ser mais favorecido pelo momento em que foi feito o plantio da soja, principal produto da produção brasileira.  

Tendências para o Brasil em 2022 no comércio exterior

Para se destacar no comércio internacional em 2022, o Brasil precisa continuar implementando uma série de reformas que serão capazes de viabilizar a redução do Custo Brasil. O Custo Brasil é uma expressão usada para se referir a um conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que atrapalham o crescimento do País. 

Também influenciam negativamente o ambiente de negócios, encarecem os preços dos produtos nacionais e custos de logística, comprometem investimentos e contribuem para uma excessiva carga tributária. 

A estimativa é de que o Custo Brasil retire R$ 1,5 trilhão por ano das empresas instaladas no País, representando 22% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem esta redução, dificilmente o Brasil conseguirá obter destaque, indo além da participação meramente residual no comércio mundial, que varia de 1% a 1,2%.

Para a redução do Custo Brasil são medidas importantes :

●  Discussão e aprovação da reforma tributária;

●  Indicação da reforma administrativa;

●  Concessões e privatizações em infraestrutura logística;

●  Implementação do Acordo de Facilitação do Comércio;

●  Conclusão da área de importação do Portal Único de Comércio Exterior.

Estas iniciativas podem facilitar muito as tendências para o comércio exterior no Brasil, gerar impactos positivos na exportação de produtos manufaturados, diminuir a burocracia e otimizar a negociação de acordos comerciais com países ou blocos.

Portal Único de Comércio Exterior 

Outro desafio do Brasil é tentar simplificar as operações. Uma destas iniciativas é o Portal Único de Comércio Exterior.

Desenvolvido pelo governo federal em conjunto com a iniciativa privada, o programa Portal Único de Comércio Exterior visa reduzir a burocracia, o tempo e os custos nas exportações e importações brasileiras, a fim de atender com mais eficiência às demandas do comércio exterior.

Seus principais objetivos são reformular os processos de exportações e importações, tornando-os mais eficientes e harmonizados, além de criar um guichê único para centralizar a interação entre o governo e os operadores privados atuantes no comércio exterior.

Além disso, o governo federal ampliou em julho o novo processo de importação (NPI) do Portal Único de comércio exterior. Esta etapa faz parte das mudanças implementadas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB), ambas do Ministério da Economia, para ampliar gradativamente a abrangência das operações.

O principal destaque no NPI é a permissão para que empresas sem certificação no Programa Operador Econômico Autorizado (OEA) possam fazer importações usufruindo benefícios do novo processo. Com isso, o NPI abrangerá uma cobertura potencial de cerca de 30% do valor total das importações brasileiras.

O novo NPI também facilitará a atuação de operadores que promovem grandes volumes de importações ao possibilitar o registro, retificação e consulta à Declaração Única de Importação (Duimp), em função da integração entre os sistemas próprios dos importadores e a plataforma governamental via internet.

Para o caso dos recintos alfandegários, que abrigam as mercadorias importadas ainda não internalizadas no País, uma API para captação massiva de dados simplificará o cumprimento de obrigações dos depositários com a Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB). 

Com a expansão do NPI, outras melhorias virão. Entre elas, otimizações nos processos de trabalho do governo, tornando possível a formação de equipes virtuais e especializadas de servidores, com distribuição mais apropriada da carga de atividades e melhor aproveitamento dos recursos públicos disponíveis.

Pagamentos e classificações

Quanto ao módulo de Pagamento Centralizado do Comércio Exterior (PCCE), a nova etapa inclui o desbloqueio automático de créditos tributários recolhidos a maior, por conta de retificação ou cancelamento das declarações de importação.

Além disso, inclui-se a automatização da guia para pagamento do ICMS – e a correspondente confirmação do recolhimento –, permitindo a entrega da carga ao importador sem exigência de comprovantes em papel.

Outro avanço refere-se ao aprimoramento da ferramenta Classif, que auxilia os operadores privados na classificação fiscal das mercadorias exportadas ou importadas, para o cumprimento dos compromissos sobre transparência e acesso à informação previstos no Acordo sobre Facilitação de Comércio (AFC), da Organização Mundial do Comércio (OMC)

Agora, o Classif permite consultas às exigências administrativas e aos requisitos técnicos para importação de determinada mercadoria no Brasil com base em navegação simplificada e intuitiva. Além disso, há a possibilidade de visualização integrada das Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH) e das decisões do governo sobre classificação fiscal de mercadorias.

Esse NPI do Programa Portal Único de Comércio Exterior deve ser implementado totalmente até o final de 2022. 

Crise dos contêineres

Os impactos do Coronavírus nas negociações internacionais já são palpáveis e diversos. Aqui no Brasil já podemos sentir a falta de contêineres vazios para realização das exportações. Com menos navios saindo da China, há um acúmulo de contêineres no país asiático, o que gera uma escassez global dos equipamentos.

Alicerce do crescimento do comércio global, os contêineres se transformaram na maior fonte de frustração para importadores e exportadores que lidam com interrupções na cadeia de suprimentos em todo o mundo.

No Brasil, um levantamento realizado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) reportou que, entre 128 empresas e associações industriais, mais de 70% estão sofrendo com a falta de contêineres ou navios. E mais da metade teve de suspender ou mesmo cancelar viagens que já estavam programadas. 

O intenso ritmo das exportações brasileiras de alimentos, em particular carne, frutas, café e outros produtos que dependem de contêineres, já esbarra em limitações logísticas provocadas pela retomada do comércio internacional no pós-pandemia.

Os fabricantes de contêineres chineses, que dominam o mercado, agora cobram cerca de US$ 2.500 por um novo contêiner, ante US$ 1.600 no ano passado. Da mesma forma, as taxas de leasing dispararam, aumentando cerca de 50% em 2021

E a situação, que teve início em 2021, vai continuar em 2022. Embora existam algumas medidas em andamento para ajudar a resolver o impasse, como transportadoras tentando reduzir o tempo livre e o período de detenção, bem como sistemas de descarga mais eficientes, realisticamente não veremos a crise global de escassez de contêineres voltando ao normal antes do segundo semestre.  

Uso de novas tecnologias

Por mais que o próprio governo facilite os processos de importação e exportação, as empresas ainda precisam buscar novas tecnologias para o comércio exterior, a fim de automatizar os seus processos. Isso é indispensável, na medida em que ameniza riscos como a perda de documentos e as dificuldades na armazenagem de dados.

As tecnologias para o comércio exterior também proporcionam aos gestores uma tomada de decisão mais assertiva e estratégica, impulsionando assim o crescimento de mercado da empresa. As tendências para o comércio exterior são cada vez mais inovadoras.

A Inteligência Artificial, por exemplo, é fundamental para a gestão empresarial, pois com ela a empresa pode se manter em conformidade com a legislação. Em função disso, a tendência sobre o entendimento do compliance deve ficar mais forte no futuro. 

Com processos sólidos de conformidade, as empresas do setor de comércio exterior evitam perdas desnecessárias que aumentam o custo das operações. Uma das maiores dores do setor é a parte fiscal e tributária. Por isso, as empresas devem manter em ordem suas obrigações.

Também soluções como Big Data e Business Intelligence são tecnologias para o comércio exterior, pois transformam a maneira de lidar com os dados e permitem decisões mais assertivas e inovadoras. Os dois trabalham em conjunto: enquanto o BI atua na estabilidade dos dados em meio a um mercado caótico, o Big Data busca novas oportunidades por meio da análise dos dados.

Falta de semicondutores em todo o mundo

Quando o assunto é desabastecimento, nunca se falou tanto sobre a crise dos semicondutores. Com a produção concentrada a poucas empresas na China, Taiwan, Coreia do Sul, a pandemia levou à interrupção das cadeias de produção, por causa de lockdowns provocados em 2020-2021, o que reduziu muito a oferta. 

A previsão é de que somente depois do segundo semestre a situação comece a melhorar. Mas a normalização vai acontecer apenas em 2023. O reflexo da falta de uma peça tão pequena é que ela é essencial para tornar possível tecnologias de ponta como Internet das Coisas, Inteligência Artificial, cloud computing e veículos autônomos. Isso sem falar de equipamentos do dia a dia como smartphones, lavadoras de roupa ou videogames.

Apenas em 2021, entre 5 e 7,5 milhões de carros deixaram de ser produzidos por falta deste tipo de insumo, sendo 280 mil somente no Brasil. Já no setor de telefonia móvel, a redução da oferta de smartphones em 2022 pode chegar a até 10% em razão do desabastecimento.

Adoção de blockchain melhora os fluxos na alfândega

Chamada de bConnect, a blockchain foi desenvolvida pelo Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) em parceria com a Receita Federal do Brasil para permitir a troca de informações de Operadores Econômicos Autorizados (OEA). 

No entanto, já há previsão de desenvolver a tecnologia para o comércio exterior para atender também ao compartilhamento de informações de Declarações Aduaneiras (alfândega). 

A intenção do governo federal é promover a troca de quaisquer informações entre os países de forma segura e ágil, preservando a soberania de todos. Essa tecnologia para o comércio exterior permitirá o compartilhamento de dados, principalmente com parceiros comerciais do Brasil como Argentina, Uruguai e Paraguai.

Dólar em alta

O dólar teve um ano de valorização em relação ao real em 2021. Até o momento, a alta já foi de mais de 6%, passando de R$ 5,20 no começo do ano para a casa dos R$ 5,70 atualmente. No ano de 2022, com as eleições presidenciais no Brasil, pode haver turbulências no mercado interno, afetando grandemente a importação e exportação. 

O principal obstáculo que as eleições podem impor é uma maior flutuação. E não há sinal de que a moeda americana terá o valor reduzido, principalmente durante a corrida eleitoral. Já no cenário internacional, qualquer mudança na política monetária dos Estados Unidos, em especial nos juros, é capaz de impactar negativamente o real ante o dólar. 

O cenário atual ainda auxilia em previsões pessimistas para 2022, como mostra o relatório FOCUS do Banco Central, no qual é esperado um crescimento de 0,7% para o PIB. Outro fator que contribui com a alta do dólar são as dúvidas com as importações e exportações chinesas com a crise dos semicondutores e a escassez de contêineres.

Para saber mais sobre as mudanças que a pandemia está trazendo ao comércio exterior, leia o post Efeitos do Coronavírus no comércio internacional.