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Efeitos do Coronavírus no comércio internacional 

Após um ano e meio de pandemia pelo coronavírus, o comércio internacional começa a refletir um crescimento lento, retornando aos níveis de 2019

Após um ano e meio do início da pandemia do coronavírus (Covid-19), com os avanços tecnológicos e científicos alcançados para o desenvolvimento de uma variedade de vacinas, as taxas de vacinação variam muito entre os países. Além disso, a aquisição de vacinas é altamente concentrada nos países mais desenvolvidos.

Até o momento, foram aplicadas 3,97 bilhões de doses, 1,1 bilhão de pessoas estão totalmente vacinadas, o que corresponde a 14,1% de toda população. No entanto, 27,6% receberam pelo menos a primeira dose em comparação ao 1,1% das pessoas em países de baixa renda. 

Acesso desigual a vacinas e serviços de saúde (entre países e grupos sociais), agravado pela emergência de novas variantes de vírus, aumentam a incerteza em torno do futuro curso da pandemia do coronavírus e a subsequente abertura e recuperação da economia e do comércio internacional.

América Latina fecha fronteiras devido ao coronavírus

Para evitar a disseminação do coronavírus, a maioria dos países passaram por restrições, como isolamento social e quarentenas, no comércio, no transporte e fechamento de fronteiras. 

Porém, estas providências foram tomadas de forma diferente em cada país e por um tempo determinado. O grande problema da região latino-americana e Caribe é a desigualdade social, provocada, entre outros, por aspectos políticos. 

Em novembro de 2020, a publicação científica The Lancet publicou um editorial que já chamava a atenção para a pandemia do coronavírus na América Latina. Segundo o artigo, a desigualdade é mesmo um dos fatores que mais deve ter contribuído para a atual situação, pois 54% da força de trabalho latino-americana é informal.  

Ou seja: é um contingente enorme de pessoas que não tem a mínima condição de permanecer em casa por longos períodos de tempo, pois precisam sair às ruas para garantir o sustento diário.

Isso explica em parte as fases contrastantes das nações bem e malsucedidas no controle do coronavírus: Argentina, Paraguai e Uruguai até conseguiram criar políticas públicas para controlar a circulação de pessoas, mas isso durou um curto período.

Além disso, a maioria dos países não tem uma rede de saúde pública bem estruturada, com exceção do Brasil e da Costa Rica. 

Diante da situação, a melhoria passa por duas ações prioritárias: políticas ajustadas de restrição da mobilidade (o popular lockdown) e a aceleração das campanhas de imunização contra o coronavírus.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, no atual estágio, não é possível focar em apenas uma dessas coisas. É preciso também conscientizar as pessoas de que mesmo vacinadas devem se cuidar. Segundo eles, as coisas só vão melhorar quando houver uma porcentagem grande da população imunizada. 

E até que isso aconteça, seria necessário manter o máximo de pessoas em casa, com o auxílio social e financeiro tão importante num momento como esse.

Coronavírus e comércio internacional em 2020

A COVID-19 surgiu em um contexto de enfraquecimento do comércio internacional que se arrasta desde a crise financeira de 2008-2009. A rápida disseminação do coronavírus e as ações tomadas pelos governos tiveram sérias consequências nas principais economias mundiais. 

Muitas atividades de produção foram interrompidas, primeiro na Ásia e depois na Europa, América do Norte e no resto do mundo, além do fechamento generalizado de fronteiras. Isso levou a um aumento acentuado do desemprego, especialmente nos Estados Unidos, com a consequente redução da demanda por bens e serviços. 

Nesse contexto, o produto mundial registraria em 2020 sua maior contração desde a Segunda Guerra Mundial. Diante disso, em maio de 2020, o volume do comércio internacional de bens caiu 17,7% em relação ao mesmo mês de 2019. A queda nos cinco primeiros meses do ano foi generalizada, embora tenha afetado especialmente as exportações dos Estados Unidos, Japão e da União Europeia. 

A China viu uma contração mais lenta do que a média mundial ao controlar o surto e reabrir sua economia de forma relativamente rápida. O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 2,3% em 2020 em comparação a 2019. Esta alta foi impulsionada pelos bons resultados do último trimestre de 2020, quando a economia chinesa cresceu 6,5%, em comparação a 2019. Para 2021, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um crescimento econômico superior a 8%.

Como o coronavírus afeta a América Latina

Segundo as projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o comércio internacional da América Latina e do Caribe teve em 2020 o seu pior desempenho desde a crise financeira mundial de 2008-2009. Isso se deu principalmente devido à crise econômica gerada pela pandemia do coronavírus e às restrições impostas pelos governos para frear sua propagação. 

A entidade estima que o valor das exportações regionais diminuiu 13%, enquanto as importações caíram 20% durante o ano de 2020. A maior parte das exportações da região foi para a Ásia, principalmente a China. Na verdade, este foi o único mercado para o qual as exportações regionais aumentaram em 2020. 

De acordo com o relatório anual Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e do Caribe 2020, a pandemia do coronavírus intensificou várias tendências que já estavam se desdobrando no comércio internacional, entre elas:

  • As tensões comerciais e tecnológicas entre os Estados Unidos e a China; 
  • O crescente nacionalismo econômico e o conflito nas relações comerciais;
  • O enfraquecimento da cooperação multilateral; 
  • A digitalização da produção e do comércio; 
  • A tendência à regionalização da produção mediante nearshoring (localização de fornecedores em países mais próximos ao mercado-alvo) e reshoring (relocalização de processos produtivos e tecnológicos estratégicos para o país de origem).

O documento indica que a recuperação dos preços dos produtos básicos e o aumento da demanda nos Estados Unidos, China e Europa criaram condições para uma recuperação incipiente das exportações regionais desde o segundo semestre de 2020. Porém, esta melhora estaria sujeita a uma incerteza considerável, devido aos surtos ocorridos em vários países e à lentidão do acesso à vacinação.

Segundo a secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, é preciso aprofundar a integração para impulsionar a recuperação regional. Para reverter a desintegração, de acordo com ela, é importante avançar em uma agenda compartilhada sobre facilitação do comércio, infraestrutura de transporte e logística e cooperação digital para gerar sinergias regionais em setores-chave.

As perspectivas para os próximos meses

Para 2021, a CEPAL projeta um crescimento de 5,2% para a América Latina e Caribe, embora não seja suficiente para recuperar o nível de produção registrado em 2019. A dinâmica e a persistência do crescimento de 2021 depende do avanço da vacinação e da capacidade dos diferentes países de reverter os problemas estruturais subjacentes ao lento crescimento que percorriam antes da pandemia.

Nos primeiros quatro meses de 2021, as exportações aumentaram entre 35% e 45% em valor. Entre janeiro e abril de 2021, o valor do comércio intrarregional cresceu 19% em relação ao mesmo período de 2020, o que o levaria aos níveis de 2019. 

Isso demonstra uma recuperação econômica em curso: as importações de bens de capital e de insumos intermediários necessários à produção cresceram a taxas acima da média, entre 30% e 40%. A recuperação do comércio intrarregional é altamente positiva para as micro, pequenas e médias empresas, que dependem crucialmente dos mercados da região.

A previsão de crescimento para 2021 reflete uma baixa base de comparação resultante da recessão de 2020 e os efeitos positivos do crescimento mais forte em todo o mundo. Este crescimento impulsionou a demanda externa, principalmente dos Estados Unidos e da China, que, em conjunto com a alta dos preços das commodities, a reabertura econômica e a flexibilização das medidas de distanciamento físico, levaram à recuperação.

Para 2022, é projetada uma taxa média de crescimento de 2,9% para a América Latina e o Caribe, o que representa uma desaceleração em relação à recuperação do ano anterior. 

Não há perspectiva de que a fraca dinâmica de crescimento anterior à crise irá mudar. Os problemas estruturais que já afetavam o crescimento da região antes da pandemia do coronavírus pioraram. Isso significa que impedirão a recuperação da atividade econômica e dos mercados de trabalho, além da retomada do crescimento em 2021 e 2022. 

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