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Planejamento e Estratégia na Reforma Tributária: O que Muda na Rentabilidade e nos Contratos

Com a Reforma Tributária, planejamento e estratégia são grandes aliados. Saiba o que muda na rentabilidade e nos contratos da sua empresa!  

A Reforma Tributária, consolidada pela Emenda Constitucional nº 132/2023, é muito mais do que uma complexa mudança na legislação fiscal. 

Ela representa uma transformação estratégica profunda que redesenha as bases do ambiente de negócios no Brasil, com impactos diretos e inevitáveis no modelo operacional, na estrutura de custos, na formação de preços, na rentabilidade e, crucialmente, nas relações contratuais das empresas. 

Para os líderes empresariais, encarar a reforma apenas como uma tarefa para o departamento contábil é um erro estratégico que pode custar caro. 

A adaptação exige uma visão holística e um planejamento proativo que envolva as áreas jurídica, comercial, financeira e de operações.

O sucesso na transição para o novo modelo de tributação sobre o consumo — baseado no Imposto sobre Valor Agregado (IVA) Dual (IBS e CBS) — dependerá da capacidade dos líderes de se anteciparem, compreendendo as nuances das mudanças e traduzindo-as em ações estratégicas. 

Este artigo serve como um guia para essa jornada, descomplexando os principais impactos na rentabilidade e nos contratos empresariais com a Reforma Tributária e oferecendo um roteiro de planejamento para transformar riscos em oportunidades. 

Reforma Tributária e rentabilidade: quais os impactos

A rentabilidade das empresas será diretamente afetada pela nova arquitetura tributária. As mudanças vão muito além da simples alteração de alíquotas, impactando a estrutura de custos e a forma como os preços são compostos.

Revisão de Preços e Margens
O princípio da não cumulatividade plena, que extingue o "efeito cascata" (imposto sobre imposto), é uma das mudanças mais positivas da reforma. No entanto, a alíquota padrão do IVA, que pode se aproximar de 28%, exigirá uma reengenharia completa na formação de preços.
A capacidade de repassar esse novo custo ao consumidor final sem perder competitividade será um desafio central. As empresas precisarão recalcular suas margens de lucro, analisando cada linha de produto e serviço para entender o impacto líquido da nova tributação.

Crédito Financeiro Universal
Uma das grandes oportunidades da reforma é a possibilidade de tomar crédito sobre praticamente todas as aquisições de bens e serviços utilizados na atividade da empresa, incluindo insumos, energia elétrica, serviços de comunicação e até ativos imobilizados.
Isso representa uma mudança significativa em relação ao modelo atual, que possui muitas restrições. Uma gestão de crédito tributário eficiente será fundamental para otimizar a carga fiscal e melhorar o fluxo de caixa.

 Impacto Contábil
A mudança na base de cálculo dos tributos sobre o consumo pode ter um efeito indireto na apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Com uma gestão de créditos mais ampla, o "lucro aparente" das empresas pode ser alterado, exigindo um planejamento cuidadoso para evitar um aumento indesejado na carga tributária sobre a renda. 

Cenários de Repasse ao Consumidor
A decisão de como e quanto repassar do novo imposto para o preço final será estratégica. As empresas precisarão modelar diferentes cenários, considerando a elasticidade da demanda de seus produtos e a estratégia de preços de seus concorrentes para manter sua posição no mercado.

Reforma Tributária e contratos empresariais: quais os impactos?

Contratos de médio e longo prazo, que foram negociados sob a lógica do sistema tributário atual, representam um dos maiores pontos de risco durante a transição. 

A ausência de cláusulas que prevejam a adaptação à nova realidade fiscal pode gerar desequilíbrios econômico-financeiros severos e disputas judiciais prolongadas.

Cláusulas que Exigem Revisão Imediata

Preço Líquido vs. Bruto de Tributos
Muitos contratos não são claros se o preço acordado inclui todos os tributos. Com a nova sistemática, é fundamental que os contratos passem a definir o preço como "líquido", destacando o valor do Imposto de Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição por Bens e Serviços (CBS) "por fora" no documento fiscal. 

Reajuste e Repactuação por Variação Tributária
Cláusulas genéricas de reajuste por inflação são insuficientes. É necessário incluir mecanismos específicos que permitam a repactuação automática dos preços caso a carga tributária efetiva sofra alterações durante o período de transição.

Responsabilidade Tributária (Split Payment)
A reforma introduz o conceito de "split payment", onde o imposto pode ser recolhido automaticamente no momento da transação. 
Os contratos devem ser claros sobre quem é o responsável pelo recolhimento e o que acontece em caso de falhas no sistema, para evitar que uma das partes seja penalizada indevidamente.

Hardship e Força Maior
Cláusulas de hardship, que preveem a renegociação do contrato em caso de eventos que o tornem excessivamente oneroso para uma das partes, devem ser revisadas para incluir explicitamente mudanças tributárias estruturais como um gatilho para o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Contratos com o Governo
Contratos administrativos, como concessões e parcerias público-privadas, que possuem prazos longos, precisam de atenção especial. A legislação deve prever mecanismos de revisão automática para reequilibrar esses contratos caso a mudança tributária gere perdas ou ganhos não previstos para uma das partes.

A importância do planejamento estratégico

A adaptação à reforma exige um planejamento estratégico que integre diferentes áreas da empresa e vá além do cumprimento das obrigações fiscais.

  • Revisão da Cadeia de Suprimentos
    A nova lógica de tributação no destino e o fim da guerra fiscal impactarão as decisões sobre onde comprar insumos e de quais fornecedores. A análise da carga tributária consolidada na cadeia de valor será essencial para otimizar os custos.
  • Reestruturação Societária
    A prática de estabelecer a sede da empresa em estados com benefícios fiscais de ICMS perderá o sentido. As empresas precisarão reavaliar suas estruturas societárias e operacionais com base em critérios de eficiência logística e de mercado, não mais em vantagens tributárias regionais.
  • Simulação de Cenários
    O uso de ferramentas tecnológicas para simular o impacto da nova carga tributária no fluxo de caixa, na rentabilidade e nos preços é uma etapa indispensável do planejamento. Isso permite tomar decisões mais informadas e se preparar para diferentes cenários de alíquotas.
  • Compliance Digital
    A reforma acelera a digitalização da gestão fiscal. A integração dos sistemas de ERP, fiscais e contábeis é crucial para garantir a apuração correta dos créditos, a emissão de documentos fiscais em conformidade e o atendimento às novas obrigações acessórias.

Oportunidades e Riscos
Como toda grande transformação, a Reforma Tributária traz consigo um conjunto de oportunidades e riscos que precisam ser gerenciados.

  • Oportunidades
    • Simplificação Administrativa: 
      A unificação de cinco tributos em dois e a padronização das regras em nível nacional prometem reduzir a complexidade e o custo de conformidade a longo prazo.
    • Maior Previsibilidade e Transparência
      Um sistema com regras mais claras e menos exceções tende a aumentar a segurança jurídica e a reduzir a necessidade de litígios.
    • Redução de Litígios
      O fim da guerra fiscal e a clareza nas regras de creditamento devem diminuir significativamente o volume de disputas tributárias entre empresas e o fisco.
  • Riscos
    • Glosas de Créditos
      Durante a transição da Reforma Tributária, a interpretação das novas regras de creditamento pode gerar incertezas. A falta de documentação adequada ou erros na apuração podem levar à glosa (recusa) de créditos pelo fisco.
    • Contratos Desatualizados
      Manter contratos antigos sem as cláusulas de adaptação necessárias é um risco financeiro e jurídico iminente. 
    • Falta de Governança Fiscal
      Empresas sem processos de governança claros para gerenciar a transição, treinar equipes e atualizar sistemas estarão mais expostas a erros, multas e perda de competitividade. 

Recomendações para Líderes

A liderança tem um papel central em guiar a organização através desta transição. Ações proativas devem ser tomadas imediatamente.Primeiro, iniciar um projeto imediato de revisão de todos os contratos de médio e longo prazo para identificar cláusulas de risco e iniciar a renegociação com parceiros comerciais.

Depois, investir na capacitação intensiva das equipes fiscal, jurídica, comercial, de suprimentos e financeira. Todos precisam entender as novas regras e seus impactos em suas respectivas áreas de atuação.

Também é preciso desenvolver, com o apoio de assessores jurídicos especializados, modelos de cláusulas tributárias robustas para serem incorporadas em todos os novos contratos a partir de agora.

A reforma ainda depende de diversas leis complementares que detalharão as regras. 

Dessa forma, criar um comitê multidisciplinar para acompanhar de perto essas discussões é fundamental para se manter atualizado e adaptar o planejamento conforme necessário. 

Conclusão
A Reforma Tributária não é um evento futuro, é um processo em andamento que exige ação imediata. 
Líderes que se anteciparem, dedicando tempo e recursos para um planejamento estratégico cuidadoso, estarão em uma posição muito mais forte para proteger suas margens, renegociar contratos de forma vantajosa e capturar as oportunidades de eficiência que o novo sistema oferece. A inércia, por outro lado, representa o risco de ser atropelado pela complexidade da transição. 
Descomplexar a reforma e transformá-la em uma alavanca de competitividade é, hoje, uma das tarefas mais importantes na agenda de qualquer gestor estratégico no Brasil.
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