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Reuters Newsmakers: Enquanto o mundo tenta reabrir, Dr. William Haseltine sugere muita cautela

Enquanto o mundo tenta reabrir, o Dr. William Haseltine, especialista em doenças infecciosas, fala sobre os próximos passos e as cautelas que devem ser tomadas neste período de crise e incerteza.

Esse foi o conselho do especialista em doenças infecciosas, William Haseltine, em uma ampla entrevista à Reuters Newsmakers sobre a crise da COVID-19 com a editora executiva global da Reuters, Alessandra Galloni. O Dr. Haseltine é conhecido por seu trabalho inovador na luta contra o câncer e o HIV/AIDS, e atualmente é Presidente e Diretor Executivo da ACCESS Health International.

A mensagem de que uma vacina infalível para a COVID-19 talvez nunca seja desenvolvida também é o mesmo aviso que o Dr. Haseltine deu a uma audiência de cientistas em 1986 sobre as perspectivas de uma vacina contra o HIV/AIDS. "Fui vaiado no palco por isso", lembrou Haseltine na entrevista. “Mas ainda não temos uma vacina contra a AIDS. Não temos certeza de que uma vacina [para a COVID-19] não será desenvolvida, mas posso dizer com a mesma convicção - não conte com ela.”

Assim como o vírus da Aids, a COVID-19 ataca o corpo humano através das membranas mucosas, que são notoriamente difíceis de proteger, explicou o Dr. Haseltine. "Como o resfriado comum, SARS e MERS, este é um coronavírus", ele afirmou, acrescentando que protocolos de diagnóstico e tratamentos medicamentosos eficazes foram desenvolvidos para os coronavírus e também estão sendo desenvolvidos para a COVID-19. "Mas toda vez que tentamos, falhamos no desenvolvimento de vacinas para essas doenças", observou ele. “Não é uma solução infalível.”

A avaliação cautelosa do Dr. Haseltine quanto à resposta atual à COVID-19 e suas implicações ocorre em um momento pouco favorável, quando estados nos EUA e países de todo o mundo estão tentando reabrir suas economias, mesmo que o vírus esteja longe de ser contido. Alarmado que as pessoas ao redor do mundo não estejam levando a doença ou o seu poder de contágio suficientemente a sério, o Dr. Haseltine também alertou os cidadãos a serem vigilantes em relação à sua higiene nas próximas semanas.

"Não estou dizendo que não podemos reabrir - podemos - mas precisamos fazer isso com muito cuidado", disse ele, explicando que enquanto o vírus estiver presente, as pessoas devem considerar todos que encontram como infectados, assim como elas mesmas, e tomar as devidas precauções. "Essa é a única suposição segura que você pode ter", disse ele. "E não assuma que se você foi infectado, você está protegido."

Quanto ao esforço global para conter o coronavírus, o Dr. Haseltine diz que é um erro pensar na busca por uma cura como algum tipo de corrida ou competição. "Somos um povo, a raça humana - e enquanto uma pessoa no mundo estiver infectada, todos correremos riscos".

Ao ser questionado para classificar os países em termos de resposta ao coronavírus, o Dr. Haseltine classificou os Estados Unidos, a Rússia e o Brasil como os países com as piores respostas, e China, Coréia do Sul e Hong Kong/Taiwan como os países com as respostas mais eficazes.

"Podemos controlar esta doença sem um medicamento", insistiu o Dr. Haseltine, citando a China como um exemplo de país que está reportando quase nenhum caso novo. "Na China, eles fizeram um rastreamento massivo de contatos para identificar pessoas infectadas e também fazem o que não fazemos, que é isolar forçadamente as pessoas infectadas".

Segundo o Dr. Haseltine, a diferença entre os países que combateram de forma eficaz o vírus é sua experiência com SARS e MERS. “Esses países entenderam o que uma pandemia poderia fazer com suas economias, portanto, tomaram medidas para evitá-la. Nós não fizemos isso. Agora, ele diz, os Estados Unidos estão descobrindo - ou mais precisamente, redescobrindo - que "há enormes consequências em não levar essas coisas a sério".

Ele também enfatizou a natureza global da pandemia e a importância de países ao redor do mundo trabalharem juntos para combatê-la. "Um ponto positivo do cenário atual é que nossa ciência e tecnologia são incríveis e as pessoas ao redor do mundo estão compartilhando conhecimento rapidamente".

De fato, a China está à frente no esforço global para desenvolver tratamentos e uma possível vacina. Em vez de culpar a China, os Estados Unidos deveriam trabalhar mais cooperativamente com cientistas chineses, sugeriu ele, acrescentando que um problema onde poderíamos ajudar os chineses é que eles não têm mais pacientes para testar.

"Sugiro que cooperemos", disse ele. "Temos o maior número de pacientes no mundo."

O Dr. Haseltine também sugeriu que as pessoas não acreditem em previsões otimistas de redução de infecções do vírus neste verão, ou em um retorno à normalidade ou uma rápida recuperação econômica em breve. "Mumbai, na Índia, é extremamente úmida e quente, mas o vírus está se espalhando intensamente por lá", observou ele. Os coronavírus em geral tendem a recuar no verão, disse ele, mas a COVID-19 é uma variedade particularmente virulenta e resistente, "portanto, não conte com a ajuda do clima quente".

A ideia de imunidade coletiva é outro boato que o Dr. Haseltine buscou desmentir. "Não existe imunidade coletiva para esta doença", disse ele, porque "as pessoas que a tiveram estão sendo infectadas novamente". Para aqueles que apontam a Suécia como um exemplo de país que permaneceu relativamente aberto na esperança de eventualmente desenvolver imunidade coletiva, ele comparou a resposta da Suécia à da Dinamarca. "A Suécia tem uma taxa de infecção muito alta em comparação à Dinamarca", disse ele, observando que, a longo prazo, "acho que você considerará a Suécia como um mau exemplo".

Mesmo que uma vacina nunca chegue, o Dr. Haseltine disse estar confiante de que cientistas em todo o mundo desenvolverão tratamentos mais eficazes para os sintomas da COVID-19 e que esses tratamentos em algum momento estarão disponíveis no mundo todo - mas isso levará tempo. "A parte mais demorada é a de testes", disse ele. "Você precisa ter certeza de que é seguro."

Enquanto isso, disse ele, cidadãos de todo o mundo - e particularmente nos Estados Unidos - vão descobrir o que acontece quando as autoridades não respeitam a Mãe Natureza o suficiente para levar a sério as ameaças de uma pandemia e não tomam as medidas adequadas para se prepararem e prevenirem um surto.

Se os EUA tivessem ouvido os especialistas e tomado as devidas precauções, "não mais que vinte pessoas teriam que sofrer com isso", disse ele. Em vez disso, ele estima que os Estados Unidos possam ter que assumir dívidas de até US$ 12 trilhões para evitar catástrofes, enquanto a saúde financeira de várias pessoas está arruinada e muitos outros morrerão desnecessariamente.

O Dr. Haseltine também não tem boas notícias para as pessoas que desejam viajar logo. "Vai demorar muito tempo até o mercado de viagens voltar para onde estava - essa é a triste realidade", explicou. Os americanos, especialmente, devem se acostumar a ficar em casa. "Os países não querem americanos", acrescentou. "Somos o último país do planeta que poderá viajar novamente."