Artigo de Especialista

Tarifaço aprovado: quais foram os impactos no Brasil

Entenda os impactos do tarifaço de Trump sobre consumidores, mercado e geopolítica e a resposta do Brasil com o Plano Soberano e as perspectivas futuras.

Durante semanas, a ameaça do tarifaço de Donald Trump ocupou manchetes e preocupou empresários, investidores e consumidores no Brasil. 

O receio de uma ruptura comercial com os Estados Unidos deixou o mercado em compasso de espera, enquanto analistas e autoridades avaliavam cenários de impacto. 

Esse clima de incerteza ganhou contornos concretos em 06 de agosto de 2025, quando a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi aprovada.

Agora, passado pouco mais de trinta dias, o debate já não é mais sobre o que poderia acontecer, mas sobre o impacto do tarifaço

Como o consumidor brasileiro está sendo afetado? Quais reflexos já se observam no PIB, no mercado financeiro e no tabuleiro geopolítico? E como o país respondeu com o chamado Plano Soberano, lançado em 15 de agosto por meio de Medida Provisória? 

É sobre isso que vamos tratar neste conteúdo, olhando também para o que pode estar por vir em 2026.

Impactos além da retórica

A entrada em vigor do tarifaço de Trump já começa a mostrar reflexos distintos na economia brasileira e no cenário internacional. 

Alguns impactos do tarifaço são imediatos e visíveis, como os movimentos de preços para o consumidor e as reações no mercado financeiro. Outros aparecem de forma mais difusa, como a influência sobre o PIB e as implicações no tabuleiro geopolítico. 

O que se observa até aqui é que a medida não afeta apenas a relação bilateral Brasil–EUA, mas também dialoga com dinâmicas mais amplas, capazes de moldar decisões de produção, investimento e política externa.

Para entender o alcance dessas transformações, vale observar de perto como cada dimensão tem sido impactada até agora.

Para o consumidor: preços em queda, mas com riscos no horizonte

No curto prazo, os consumidores brasileiros já têm observado preços mais baixos em alguns setores.

Isso acontece porque a dificuldade de exportar para os Estados Unidos aumentou a oferta de determinados produtos no mercado interno

Contudo, essa vantagem pode ser temporária. Se produtores reduzirem a produção diante da queda na rentabilidade das exportações, a tendência é que os preços internos voltem a subir, equilibrando ou até revertendo o alívio inicial.

No PIB: impacto limitado, mas simbólico

Apesar de 36% das exportações brasileiras estarem diretamente atingidas pelo tarifaço, o efeito sobre a economia nacional é considerado restrito. Isso porque essas vendas correspondem a apenas 4% do total exportado pelo Brasil. Com isso, a estimativa é de uma queda de cerca de 0,1% no PIB, número modesto em termos macroeconômicos. 

Ainda assim, o impacto simbólico do tarifaço é relevante: a medida mostra como o país ainda é vulnerável diante de mudanças unilaterais de parceiros estratégicos e reacende o debate sobre diversificação de mercados.

No mercado financeiro: reação contida e já esperada

Logo após a entrada em vigor do tarifaço, o Ibovespa registrou alta e o dólar recuou frente ao real. 

A reação aparentemente positiva não significa otimismo com a medida, mas indica que o mercado já havia incorporado o impacto em suas projeções. Em outras palavras, o tarifaço estava “precificado”.

Além disso, parte relevante dos produtos brasileiros acabou ficando de fora da tarifa máxima, o que reduziu o peso da medida sobre os ativos nacionais e ajudou a conter a volatilidade.

No plano global e geopolítico: incertezas preservadas

Do ponto de vista internacional, pouca coisa mudou desde a entrada em vigor do tarifaço. 

A política comercial mais agressiva dos Estados Unidos reforçou a instabilidade já existente, mantendo elevado o nível de incerteza global. 

Segundo o Banco Mundial e a OCDE, continuam válidas as projeções de baixo crescimento mundial, desaceleração em mercados emergentes e queda nos fluxos de investimento internacional

Para Washington, a justificativa oficial segue a mesma: preservar a hegemonia do dólar e responder ao avanço de acordos comerciais que buscam alternativas à moeda americana.

Do impacto a reação: Plano Brasil Soberano 

Diante desse conjunto de efeitos o governo brasileiro não demorou a reagir. 

A percepção de que o tarifaço poderia comprometer a competitividade e agravar vulnerabilidades estruturais levou à formulação de um pacote emergencial de medidas. E assim nasceu o Plano Brasil Soberano, instituído pela Medida Provisória nº 1.309, publicada no Diário Oficial da União em 14 de agosto de 2025.

O plano estabeleceu um comitê para monitorar as relações comerciais com os Estados Unidos e combina iniciativas de curto e médio prazo como:

  • Mitigar os impactos econômicos e sociais;
  • Manter a capacidade exportadora;
  • Apoiar exportadores brasileiros e preservar empregos;
  • Assegurar uma resposta rápida por meio de instrumentos financeiros, jurídicos e administrativos.

No geral, o propósito é reduzir os danos imediatos e criar condições para preservar a capacidade exportadora e o emprego, ao mesmo tempo em que fortalece a posição do Brasil no comércio internacional.

Os aspectos mais relevantes previstos na medida incluem:

Apoio aos exportadores: criação de mecanismos financeiros, de crédito e de garantias para empresas atingidas pelas tarifas norte-americanas. Isso envolve a expansão das garantias no âmbito do Pronampe, novas linhas de financiamento pelo BNDES e maior uso de fundos de garantia às exportações.

Crédito e seguro: ajuste nas regras de seguro de crédito à exportação e nas garantias, permitindo compartilhamento de riscos e coberturas mais flexíveis, com foco especial em micro, pequenas e médias empresas.

Programa emergencial de crédito: lançamento do Peac-FGI Solidário, voltado a exportadores afetados e a municípios atingidos por desastres. O programa conta com recursos segregados e procedimentos simplificados para acelerar a liberação de crédito.

Alívio tributário: autorização, em caráter excepcional, para a prorrogação de prazos de suspensão tributária no regime de drawback, beneficiando exportadores cujos contratos com os EUA foram interrompidos.

Aquisição pública de alimentos: permissão para a compra pública direta de produtos alimentícios que deixaram de ser exportados devido às tarifas, com regras de contratação simplificadas e mecanismos adicionais de transparência.

Governança e supervisão: definição de critérios claros para priorização do apoio, monitoramento de riscos e prestação de contas por fundos e comitês competentes.

Ajustes legais: alteração e atualização de leis relacionadas ao comércio exterior, alinhando-as às novas medidas e revogando dispositivos considerados obsoletos.

O que esperar para 2026

A resposta do Brasil ao tarifaço, por meio do Plano Soberano, abre caminhos para diferentes possibilidades, mas muito dependerá da capacidade do país de implementar suas medidas e de reposicionar sua presença no comércio internacional. 

Analistas projetam três cenários distintos para o próximo ano, que vão de um fortalecimento estratégico até riscos de retração prolongada.

  • Cenário otimista: se o Brasil conseguir diversificar mercados e preservar empregos, pode sair fortalecido e menos dependente dos Estados Unidos.
  • Cenário intermediário: a transição tende a ser lenta, com perdas em alguns setores sendo compensadas pela celebração de novos acordos comerciais.
  • Cenário pessimista: sem negociação ou adaptação, o país pode enfrentar queda prolongada do PIB, aumento do desemprego e perda de competitividade internacional.

Quando o futuro depende de escolhas presentes

O impacto do tarifaço de Trump representou um choque relevante nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, mas seus efeitos até aqui mostraram-se desiguais. 

Mais do que números imediatos, o episódio expõe dilemas de fundo: até que ponto a economia brasileira pode sustentar sua competitividade diante de medidas unilaterais de parceiros estratégicos? E como equilibrar a necessidade de respostas rápidas com a urgência de políticas estruturais que reduzam vulnerabilidades no longo prazo?

As próximas escolhas do Brasil dirão se o país será capaz de transformar a adversidade em oportunidade ou se continuará sujeito a ciclos externos de instabilidade. 

O ano de 2026, portanto, não é apenas um horizonte temporal, mas um teste de resiliência e de visão estratégica.

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