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Tarifas EUA – Brasil: tudo o que você precisa saber sobre o Tarifaço de Trump para o Brasil  

O governo dos Estados Unidos anunciou a aplicação de novas tarifas, que variam de 20% a 50%, sobre produtos exportados ao país, com validade a partir de 1º de agosto. No entanto, a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi adiada para o dia 6 de agosto, conforme comunicado recente da administração da presidente Donald Trump.

A decisão inicial foi comunicada por meio de carta a diversas nações, inclusive o Brasil. Com isso, a medida dá seguimento a uma política de fortalecimento e proteção da economia americana. 

Em abril, a gestão Trump já havia anunciado um aumento de tributos sobre importações, mas adiou a vigência de muitas dessas taxas. No entanto, as tarifas EUA – Brasil já entraram em vigor e uma tarifa extra de 10% sobre os produtos vendidos aos EUA.

Países afetados e as novas alíquotas do Tarifaço de Trump

O Tarifaço de Trump afetará mais de 20 países. A seguir, estão os percentuais que cada nação enfrentará a partir de 1º de agosto de 2025, exceto para o Brasil que a entrada em vigor foi adiada para 6 de agosto.

  • África do Sul: 30%
  • Argélia: 30%
  • Bangladesh: 35%
  • Bósnia e Herzegovina: 30%
  • Brasil: 50%
  • Brunei: 25%
  • Cambodja: 36%
  • Canadá: 35%
  • Cazaquistão: 25%
  • Coreia do Sul: 25%
  • Filipinas: 19%
  • Indonésia: 19%
  • Iraque: 30%
  • Japão: 15%
  • Laos: 40%
  • Líbia: 30%
  • Malásia: 25%
  • México: 30%
  • Myanmar: 40%
  • Moldávia: 25%
  • Sérvia: 35%
  • Sri Lanka: 30%
  • Reino Unido: 10%
  • Tailândia: 36%
  • Tunísia: 25%
  • União Europeia: 15%
  • Vietnã: 20%

Tarifa Trump de 50% e investigação: as medidas impostas ao Brasil

Dentre os países notificados com as tarifas de Donald Trump, o Brasil foi o que sofreu o maior impacto, com uma taxa de 50% sobre todas as suas exportações para os Estados Unidos. Essa alíquota é similar à que já incide sobre produtos como aço e alumínio, gerando reflexos diretos no setor siderúrgico nacional. 

Além da nova tarifa, a administração americana anunciou a abertura de uma investigação contra o Brasil por supostas práticas comerciais desleais. 

Apesar de ambas as medidas gerarem preocupação, a nova alíquota é a que de fato gera apreensão imediata entre os exportadores. A investigação, por outro lado é vista como um processo demorado, que deve ocorrer somente após a vigência da tarifa. 

Diante desse cenário de urgência, diversos empresários solicitaram a prorrogação da entrada em vigor por 90 dias, em um modelo semelhante ao adotado nas negociações dos EUA com a China. Porém, com o adiamento da entrada em vigor das tarifas para 6 de agosto, haverá um período extra para adaptação e possíveis negociações.

A estratégia dos EUA: justificativas e condições para negociar

O governo brasileiro avalia que a investigação é uma estratégia para justificar a alíquota, principalmente porque a balança comercial bilateral é deficitária para o Brasil. 

Por outro lado, a administração americana argumenta que a decisão se baseia nos “ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas”. Adicionalmente, são mencionadas outras práticas, como as barreiras ao etanol, um ponto de atrito histórico entre as duas nações.

Para além das justificativas oficiais, as ações indicam uma estratégia para aumentar o poder de barganha e a influência dos EUA nas relações internacionais. A administração afirmou que as tarifas do Tarifaço do Trump “podem ser ajustadas para cima ou para baixo”. 

Foi sinalizada a disposição de reavaliar a medida sob condições como a redução de barreiras comerciais e a construção de fábricas por empresas brasileiras em solo americano. Contudo, o governo americano também advertiu que qualquer retaliação será respondida na mesma proporção.

A resposta do Brasil: diplomacia e preparação interna

Em resposta às tarifas, o governo brasileiro enviou uma carta às autoridades norte-americanas em 16 de julho. O documento manifesta “indignação” e ressalta os impactos negativos da sobretaxa, mas formaliza um pedido de diálogo. 

Apesar de especulações sobre possíveis respostas, como a taxação de serviços digitais ou restrições a dividendos, o Brasil priorizou o caminho diplomático. Segundo o MDIC, o objetivo é preservar a relação bilateral e buscar soluções para os impactos da medida.

Paralelamente, o governo brasileiro também vem se organizando internamente. Inclusive foi criado um comitê interministerial, sob a presidência de Alckmin, com o objetivo de ouvir os setores afetados e avaliar possíveis medidas de resposta. No último dia 29 de julho, houve avanços nas conversas entre Alckmin e representantes do governo americano, o que resultou na decisão do presidente Trump de adiar a aplicação das tarifas e definir uma lista de produtos brasileiros isentos da taxa de 50%. Essa decisão foi justificada como uma forma de proteger os interesses das empresas americanas.

Reação imediata e projeções macroeconômicas

Os anúncios das novas tarifas do EUA para o Brasil não impactaram apenas as relações comerciais, pois os efeitos foram sentidos imediatamente nos mercados financeiros. 

Após a divulgação das tarifas de Trump, em 9 de julho, os ativos do Brasil registraram queda: o Ibovespa futuro recuou 2,44% e o dólar futuro avançou 2,30%. No mercado à vista, o Ibovespa caiu 1,31% e o dólar comercial fechou em alta de 1,06%, a 5,50 reais. O ETF iShares MSCI Brazil (EWZ), negociado em Nova York, também teve queda de 1,81%.

Logo após o anúncio, o JP Morgan revisou suas projeções e reduziu a estimativa de crescimento do PIB dos Estados Unidos para 1,6% em 2025. Para o Brasil, estima-se que a implementação das tarifas entre EUA e Brasil possa causar uma queda de até 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB). O aumento das tarifas sobre commodities tende a agravar um cenário de recessão, exercendo ainda mais pressão sobre a indústria e as exportações nacionais. Vale destacar que, com a divulgação da lista que exclui diversos produtos brasileiros da tarifa de 50%, essas projeções poderão ser alteradas.

Os riscos estratégicos decorrentes da medida

Além dos efeitos econômicos diretos, a tarifa de Trump acarreta uma série de riscos estratégicos para o futuro das relações comerciais e diplomáticas. Entre os principais pontos de atenção, destacam-se:

  • Guerra tarifária: o Brasil pode adotar tarifas de retaliação, o que prejudicaria exportadores e elevaria o custo de importações, desencadeando uma disputa comercial.
  • Incerteza jurídica: a continuidade das medidas dependerá de decisões judiciais e de posicionamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC).
  • Impacto diplomático: a ação representa um possível abalo nas relações entre Brasília e Washington, com potenciais repercussões geopolíticas.
  • Repercussão para o consumidor: nos EUA, um aumento significativo da inflação pode levar a questão ao centro do debate político, aumentando a pressão sobre o governo.

Impactos econômicos e os setores mais afetados - O adiamento da vigência e a lista de exceções

No dia 30 de julho, as vésperas da entrada em vigor da medida que aumenta para 50% a tarifa sobre produtos brasileiros, foi anunciada pela administração dos Estados Unidos, o adiamento da entrada em vigor para 6 de agosto. Além do adiamento, a novidade mais relevante é a publicação de uma extensa lista de 694 itens que ficarão livres da sobretaxa. Essa medida protege algumas das principais exportações brasileiras, incluindo aeronaves da Embraer, peças para aviação, suco de laranja, castanha do Pará, minério de ferro, estanho, silício, magnésio, mica, alumínio, produtos energéticos, madeira, celulose, papel, ouro, prata, fertilizantes, gás natural, borracha dura, equipamentos elétricos e petróleo.

Os itens isentos representam cerca de 43% do total das exportações brasileiras para os EUA, somando US$ 42,3 bilhões, sendo combustíveis a principal categoria, com US$ 8,5 bilhões.

No entanto, até o momento, produtos como café, cacau, carnes e frutas não estão entre as exceções e serão afetados pela nova tarifa, impactando diretamente o agronegócio brasileiro. O aço e o alumínio permanecem sujeitos à tarifa de 50% já imposta anteriormente.

Segundo dados do ComexVis, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os setores mais atingidos pela medida seriam:

  • Petróleo e derivados: 7,5 bilhões de dólares exportados (18,3% do total vendido aos EUA);
  • Ferro e aço: 5,3 bilhões de dólares (13,2%);
  • Aeronaves e equipamentos: 2,7 bilhões de dólares (6,7%).

Para o setor de suco de laranja, as estimativas de aumento de custos podem ser significativamente mitigadas, uma vez que o suco de laranja foi incluído na lista de exceções da tarifa de 50%." Existia uma perspectiva de aumento de custos de cerca de 68 milhões de dólares nos próximos 12 meses, apenas para o suco de laranja não concentrado.

O setor de carne bovina, por sua vez, continua em situação de risco, pois produtos como carnes não estão entre as exceções e serão diretamente afetados pela nova tarifa, podendo gerar perdas de 1,3 bilhão de dólares em 2025, conforme estimativa da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). A entidade destaca que as exportações de carne bovina e seus subprodutos já vinham em trajetória de crescimento, com alta de 27,93% em receita no primeiro semestre de 2025, alcançando 7,446 bilhões de dólares. Nesse cenário, os Estados Unidos se consolidaram como o segundo maior destino desses produtos, com vendas de 1,287 bilhão de dólares no período, um aumento de 99,8% em relação a 2024.

Além do impacto financeiro direto, a natureza dos produtos exportados agrava o cenário. Os Estados Unidos importam, majoritariamente, bens industrializados do Brasil, que possuem maior valor agregado. Dessa forma, as tarifas de Trump ameaçam diretamente a geração de empregos qualificados no país.

Para Jorge Arbache, ex-secretário de Assuntos Internacionais no Ministério do Planejamento, as implicações são “potencialmente devastadoras”, incluindo:

  • Saída de empresas brasileiras para os EUA;
  • Redução da atratividade do país para investimentos diretos estrangeiros;
  • Obstáculos ao aproveitamento do capital natural como motor de desenvolvimento;
  • Perda de protagonismo na agenda climática;
  • Aumento dos custos de produção e retração nas exportações;
  • Dificuldades nos sistemas de pagamento;
  • E restrições ao acesso a tecnologias estratégicas.

Estratégias para mitigar riscos e preservar a competitividade

O novo cenário com as tarifas de Donald Trump exige que as empresas ajustem suas estratégias para navegar em um ambiente comercial mais complexo. A adoção de tarifas demandará atenção redobrada, decisões estratégicas e medidas preventivas, considerando os possíveis efeitos sobre as margens de lucro, os empregos e as dificuldades para firmar novos contratos.

Uma das principais frentes de ação é a diversificação de mercados para além dos destinos tradicionais. Enquanto a China se destaca como principal compradora de produtos brasileiros, torna-se fundamental direcionar esforços para novos parceiros. Nesse sentido, países como Chile, México e Rússia, que apresentaram crescimento expressivo em 2025, surgem como alternativas. Conforme análises setoriais, como a da Abrafrigo, o caminho a ser seguido envolve investir na abertura de novos mercados e na desburocratização dos processos de exportação.

Finalmente, será inevitável a necessidade de ajustes nas cadeias produtivas globais, exigindo que as empresas se adaptem à nova realidade. A busca por acordos, os custos de importação e a possibilidade de tarifas retaliatórias reforçam a importância de estratégias flexíveis. O monitoramento contínuo das negociações diplomáticas e a capacidade de adaptação serão essenciais para mitigar impactos e preservar a competitividade no longo prazo.

Um cenário em evolução: os próximos passos para o comércio

A imposição do Tarifaço de Trump não representa um evento isolado, mas sim o início de uma potencial reconfiguração nas relações comerciais globais. As respostas diplomáticas, as reações do mercado e os ajustes setoriais são apenas os primeiros capítulos de uma narrativa que segue em andamento.

Para as empresas e analistas, portanto, a capacidade de se adaptar será fundamental para navegar em um cenário que promete seguir em constante evolução.