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Os custos do comércio internacional: como reduzir o impacto na competitividade?

Descubra como o cenário internacional pode ter impactos nos custos e competitividade da sua empresa, e como se preparar para imprevistos.
Luis Sena
Gerente de Produto na Thomson Reuters

A interdependência entre a produção e a demanda é um forte indicador da globalização das economias modernas e do seu grau de integração.

Isso porque qualquer problema, mesmo que local, pode gerar impactos significativos que afetam diretamente a competitividade e a relação comercial entre os países, prejudicando assim suas respectivas cadeias produtivas.

Exemplo recente desse ambiente de dependência mútua inclui a pandemia da COVID-19, com picos em 2020 e 2021, e a guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022.

Com essas mudanças frequentes de cenários e com eventos no horizonte, as empresas precisam estar preparadas a todo momento para interferências externas e impactos no seu processo comercial, evitando ou minimizando os impactos que delas decorrem.

Desafios do Brasil no comércio exterior

No Brasil, deficiência logística, burocracia excessiva e alta carga tributária afetam o comércio com outros países, gerando custos elevados em toda a cadeia produtiva, desde a produção até a entrega do produto ao destinatário.

Além do mais, é importante salientar que esses fatores também têm impacto negativo na operação inversa, ou seja, na importação.

Mas aqui vamos nos limitar, mais especificamente aos impactos dos custos na operação de comércio internacional provocados nos últimos tempos pela pandemia e a guerra pela soberania da Crimeia.

A interrupção na produção chinesa e os impactos no comércio global

A pandemia de COVID-19, que teve início em 2020, afetou o mundo que é altamente dependente da produção na região da Ásia.

A China, por exemplo, foi um dos primeiros países a tomar medidas para impedir a disseminação do vírus, adotando o lockdown após o avanço da doença em grandes cidades, como Wuhan.

Wuhan é uma das maiores cidades da região central da China e atua como centro político, econômico e financeiro. Além disso, a cidade é sede de indústrias importantes no contexto internacional, como a de ótica-eletrônica, de automóveis, fabricação de ferro e aço e setor farmacêutico.

Esse fechamento fez com que muitas empresas chinesas a paralisassem suas produções e fechar portos — onde mais de 90% da produção é escoada. Com isso, o mundo, sofreu uma quebra brusca no fornecimento de insumos para suas produções, fato que iria produzir um efeito cascata em vários setores.

A pressão inflacionária, custos dos fretes e o desafio logístico

Essa interrupção na produção chinesa, que chegou a uma queda de 30%, gerou uma brusca quebra na oferta de insumos para as indústrias ao redor do mundo.

Além disso, as próprias exportações da China sofreram uma queda próxima a 17%, o que gerou uma grande competição global por containers e pelo frete internacional, especialmente o marítimo, que representa cerca de 80% do transporte de carga —representando um desafio logístico.

Esse desequilíbrio entre a oferta e a demanda levou a uma pressão inflacionária nos valores dos fretes. Por exemplo, em 2021, o valor dos fretes passou de U$ 1.200,00/container a mais de U$10 mil/container em um curto espaço de tempo.

Além disso, tivemos falta de containers, disparada da cotação do dólar, agentes de transporte escolhendo os serviços mais rentáveis, etc.

A guerra na Ucrânia e os impactos no fornecimento e custo de commodities

Some-se a isso o fato de que, em fevereiro de 2022, a Rússia iniciou uma guerra com a Ucrânia, o que gerou uma grande ameaça ao fornecimento de commodities desses países.

Nesse sentido, tanto a Rússia, quanto a Ucrânia, embora tenham participações relativamente pequenas no comércio mundial, são grandes fornecedores de matérias-primas, principalmente grãos, o que tornou o conflito uma preocupação global.

Como resultado imediato da guerra, houve um forte aumento nos preços das commodities, o que beneficiou o Brasil em 2022 e deverá continuar até o final do conflito.

No entanto, é importante considerar que a possibilidade de preços continuarem pressionados pela guerra poderá obrigar bancos centrais ao redor do mundo a manterem os juros altos por um período mais prolongado, o que poderá ter implicações significativas para a economia global.

Preparação empresarial para crises: flexibilidade e adaptabilidade

Diante da possibilidade constante de crises internas e externas que possam desestabilizar o comércio internacional, é cada vez mais essencial que as empresas estejam preparadas para lidar com esses momentos.

Para isso, construir planejamentos bem estruturados que possibilitem enfrentar esses períodos com o menor impacto possível é um movimento essencial das empresas.

Outro ponto importante para essas empresas, é promover maior flexibilidade e capacidade de adaptação e evolução de seus negócios mesmo em cenários de caos.

Estratégias para redução da dependência asiática

Além disso, para diminuir a dependência de insumos concentrados em países asiáticos, é necessário estimular a produção em outras regiões, principalmente em países com condições econômicas adversas.

No contexto brasileiro, o governo deve criar um cronograma de melhorias que reduza os custos em produção e logística e aumente a competitividade da indústria nacional, reduzindo o chamado “Custo Brasil”.

Em estudo divulgado recentemente pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) mostrou que esse Custo Brasil encareceu, os bens industriais brasileiros em 25,4% entre 2008 e 2019, puxado principalmente pela carga tributária sobre as empresas.

É importante destacar que a atuação governamental pode contemplar a implementação de medidas que beneficiem empresas importadoras e exportadoras por meio de Regimes Especiais, trazendo maior equilíbrio.

Isso evita a exportação dos custos tributários, como o Imposto de Importação, em seus preços de mercado, tornando a atuação dessas empresas mais competitiva e eficiente.

Adaptabilidade é chave para a competitividade em um mercado instável

Com a instabilidade presente no mercado, é crucial que as empresas sejam flexíveis e capazes de se adaptar, evoluindo para se manterem competitivas.

Além disso, é essencial que estejam preparadas para lidar com futuras turbulências, por meio do uso de tecnologia que forneça informações e soluções antecipadas.

Essa capacidade de crescer frente às mudanças é fundamental para garantir a sobrevivência das empresas em um mundo cada vez mais competitivo.

Tecnologia pode garantir sobrevivência empresarial

O avanço da tecnologia de impressão 3D é um exemplo: esse tipo de tecnologia tem se tornado uma realidade em diversos segmentos, como medicina e engenharia, contando com um mercado de US$5,72 bilhões, só nos EUA.

Imagine só: uma empresa que hoje compra peças de fornecedores em outros países, poderá receber uma licença para produzir as peças que necessita utilizando uma impressora 3D, reduzindo custos e tempo de produção.

Isso implica em uma transformação significativa e potente no cenário produtivo local e mundial, com as empresas fazendo sua gestão produtiva de maneira mais eficiente.