Instituto Thomson Reuters

ChatGPT e Inteligência Artificial Generativa nos Departamentos Jurídicos

Os departamentos jurídicos podem estar à frente dos escritórios de advocacia na aceitação e uso, mas ainda veem riscos potenciais

Os rápidos avanços em inteligência artificial (IA) revolucionaram a maneira como interagimos com a tecnologia – e um dos desenvolvimentos mais potencialmente impactantes nesse campo é o surgimento da IA generativa, um método que usa algoritmos de aprendizado de máquina profundo para gerar novos conteúdos, incluindo texto, imagens e até vídeos. O lançamento do ChatGPT, um mecanismo de IA generativo voltado para o público, há poucos meses já permitiu que multidões de pessoas experimentassem a tecnologia e testassem os limites do conteúdo que pode ser produzido pela mistura de algortimos de inputs humanos e IA.

O impacto potencial do ChatGPT e da IA generativa na forma como os negócios são conduzidos em vários setores tem sido explosivo. Não surpreendentemente, a indústria jurídica lançou um olhar muito cauteloso sobre o que o uso generalizado dessas tecnologias dentro de escritórios de advocacia e departamentos jurídicos corporativos pode significar para a prestação de serviços, segurança de dados e até mesmo preços.

Para se aprofundar nesse assunto, a Thomson Reuters Institute realizou pesquisas e entrevistas de acompanhamento com advogados atuantes em empresas nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá sobre suas atitudes em relação à IA generativa e ao ChatGPT dentro de seus departamentos jurídicos, a fim de medir melhor a conscientização e a adoção dessas tecnologias pelos membros do departamento, bem como suas visões sobre riscos potenciais.

Nessa pesquisa sobre o setor jurídico corporativo, percebemos que a grande maioria dos advogados dentro dos departamentos de Direito Corporativo está bem ciente da IA generativa e do ChatGPT, e a maioria disse acreditar que isso, eventualmente, impactará muito a forma como os serviços jurídicos são entregues no futuro, mesmo que a tecnologia ainda não esteja madura ou confiável o suficiente. 

Um diretor jurídico sênior de uma grande corporação ainda disse que sua equipe jurídica está, atualmente, estudando a criação de uma versão privada da tecnologia, que permita um uso semelhante e, ao mesmo tempo, seja mais segura. "Não estamos fechando os olhos para isso", diz o executivo. "Estamos trabalhando em uma solução que funcione para nós."

Embora a maioria dos entrevistados dos departamentos jurídicos corporativos diga que o ChatGPT e a IA generativa podem ser usados para o trabalho jurídico hoje, poucos acham que eles devem ser usados dentro dos departamentos jurídicos. E a maioria dos entrevistados também observou algum nível de preocupação com o risco sobre o uso dessas tecnologias, seja dentro de departamentos jurídicos ou por seus escritórios de advocacia externos. No entanto, muitos também reconheceram que as tecnologias relacionadas à IA – por mais impactantes e capazes que sejam – são simplesmente ferramentas que ainda precisam de um toque humano para funcionar com o máximo efeito, especialmente na área do direito. "A IA é tão boa quanto sua programação e inputs", disse um entrevistado. "Não é capaz de raciocinar ou aplicar corretamente a lei às circunstâncias." Claramente, como o relatório de pesquisa ressalta, o ChatGPT e a IA generativa podem realmente revolucionar a forma como os negócios são conduzidos nos departamentos jurídicos corporativos – possivelmente mais cedo do que muitos preveem – no entanto, essas ferramentas ainda precisarão de uma mente estável e legalmente ajustada no comando para garantir que as coisas permaneçam no curso.

Este relatório segue uma pesquisa anterior sobre as visões e o uso do ChatGPT e da IA generativa pelos escritórios de advocacia (saiba mais neste link)

Principais conclusões da pesquisa

Nossa pesquisa revelou várias descobertas importantes, que lançam luz sobre como os líderes dos departamentos jurídicos corporativos estão percebendo e usando o ChatGPT e a IA generativa à medida que essas tecnologias continuam a evoluir e se tornam mais amplamente aceitas. As principais são:

Maior conscientização e disposição para aplicar

Os líderes dos departamentos jurídicos pesquisados geralmente desmonstraram alta consciência do ChatGPT e da IA generativa, com 95% dos entrevistados dizendo que já ouviram falar ou leram sobre ChatGPT ou IA generativa. Isso é maior do que a conscientização entre os líderes de escritórios de advocacia, dos quais 91% disseram ter ouvido falar ou lido sobre ChatGPT ou IA generativa.

Essa consciência provavelmente estimulará a aceitação e o uso, mesmo na profissão jurídica geralmente reticente. "Antes do ChatGPT, o avanço tecnológico no software jurídico era bastante incremental, mas agora parece pronto para dar grandes passos em direção a algo significativo", diz Gunter Eren, Diretor Jurídico em Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Inovação Empresarial da Konica Minolta, no Reino Unido.

Além disso, a maioria dos entrevistados dos departamentos de Direito Corporativo (82%) acredita que o ChatGPT e a IA generativa podem ser aplicados ao trabalho jurídico, enquanto mais da metade (54%) acredita que o ChatGPT e a IA generativa devem ser usados para o trabalho jurídico. Além disso, sete em cada dez entrevistados disseram acreditar que essas tecnologias também devem ser aplicadas ao trabalho não legal.

Mais conforto com o uso das tecnologias

Embora apenas um pequeno número de departamentos jurídicos corporativos (11%) tenha dito que já está usando ou planejando usar o ChatGPT e a IA generativa em suas operações jurídicas, isso foi novamente maior em comparação com o uso ou o uso planejado pelos entrevistados de escritórios de advocacia (5%).

Entre os principais usos do ChatGPT e da IA generativa em operações jurídicas corporativas está a elaboração e revisão de contratos, com 76% dos usuários dizendo que atualmente usam ou estão interessados em usar a tecnologia para esse fim, e 69% dizendo que usam ou estão interessados em usar a tecnologia para pesquisa jurídica.

Entre os entrevistados que disseram que já estão usando ou planejando usar o ChatGPT e a IA generativa em suas operações, 19% dos entrevistados de escritórios e de departamentos jurídicos dizem que já estão usando essas tecnologias em larga escala. No entanto, 31% dos entrevistados dos departamentos jurídicos disseram que planejam lançar o uso nos próximos seis meses, em comparação com apenas 5% dos entrevistados de escritórios de advocacia que disseram isso.

Curiosamente, cerca de um quarto dos entrevistados diz acreditar que seus escritórios de advocacia externos não devem aplicar o ChatGPT e a IA generativa ao trabalho jurídico que realizam para clientes por causa de preocupações com segurança, privacidade, precisão e preços de serviços jurídicos.

"Estou preocupado com o que nossos escritórios de advocacia externos estão fazendo com isso", explica o diretor jurídico sênior. "Se eles costumavam produzir um memorando que levava 20 horas para ser concluído, e nos cobravam por 10 horas, mas agora estão produzindo com IA em meia hora, e ainda nos cobrando o mesmo. Isso é fraudulento."

Reconhecimento dos riscos envolvidos

Três quartos dos profissionais jurídicos de empresas dizem ter preocupações de risco em torno do uso do ChatGPT e da IA generativa, principalmente em áreas de precisão, privacidade, confidencialidade e segurança.

Wei Zhao, Diretor Jurídico da Segway, diz que sua principal preocupação é a confiabilidade dos resultados que a tecnologia produz. "O ChatGPT gera toneladas de informações, então é realmente difícil saber se vem de fontes confiáveis que podem ser verificadas", diz Zhao.

Além disso, cerca de um quarto dos entrevistados disseram que receberam avisos de suas empresas sobre o ChatGPT e o uso de IA generativa para seu trabalho, mas apenas 10% relataram que o ChatGPT e a IA generativa foram banidos em suas empresas. Mais uma vez, muitas das objeções sobre o uso de IA no trabalho jurídico reconheceram a importância do toque humano e da experiência na profissão jurídica, a singularidade e complexidade das questões jurídicas, a necessidade de supervisão e revisão de materiais gerados por IA, bem como considerações éticas, preocupações de imprecisão, a tecnologia ainda não estar totalmente pronta ou ser apropriada apenas para tarefas legais básicas.

Metodologia

A Thomson Reuters Institute conduziu esta pesquisa enviando convites para uma pesquisa on-line para departamentos jurídicos de empresas, juntamente com membros do departamento jurídica da Thomson Reuters Influencer Coalition. Foram 587 profissionais localizados nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá que responderam à pesquisa entre 11 e 25 de abril de 2023.

Desses entrevistados, 49% eram de departamentos de Direito Empresarial com 2 a 10 advogados na equipe; e 24% eram de departamentos com 11 a 49 advogados. 15% eram de departamentos de advogados únicos, e os 12% restantes eram de departamentos com mais de 50 advogados. A maioria dos entrevistados era dos EUA (67%), com 29% dos entrevistados do Reino Unido e 4% do Canadá.

Os cargos dos entrevistados foram divididos aproximadamente entre Conselheiro Geral ou Assistente GC (47%), advogado interno (26%), Diretor Jurídico (9%) e Solicitors (8%). Os demais entrevistados se identificaram como profissionais de operações jurídicas, conselheiros de Compliance ou presidentes/proprietários.

Os entrevistados que completaram a pesquisa também foram questionados sobre suas opiniões sobre o motivo da IA generativa não ser usada para o trabalho legal, bem como os riscos potenciais da IA generativa, assim como se eles acreditavam que esses riscos existiam. A Thomson Reuters Institute também realizou entrevistas qualitativas adicionais para aprofundar as crenças generativas de IA, além das respostas da pesquisa.

Confira o relatório na íntegra, em inglês, neste link.