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O estado dos Departamentos Fiscais e Tributários Corporativos em 2023

O medo de estar de fora chegou às funções tributárias corporativas?

Na nova era digital, uma sigla tem sido usada para identificar uma grande mudança de atitude que é ao mesmo tempo paralisante e motivadora: Fear of Missing Out (FOMO, ou medo de perder algo, em tradução livre), é o sentimento de preocupação ou ansiedade que ocorre quando você acredita que não está a par dos últimos desenvolvimentos ou inovações, ou que está perdendo informações, experiências, ou oportunidades que podem melhorar sua vida. E embora o FOMO geralmente esteja associado a essas experiências compartilhadas nas mídias sociais que levam as pessoas a permanecerem ansiosamente conectadas apenas para se manterem atualizadas, pode haver uma versão baseada no trabalho desse fenômeno se infiltrando em certas profissões.

Ao olharmos para os resultados da pesquisa deste ano, destilados no relatório anual de pesquisa global State of the Corporate Tax Department do Thomson Reuters Institute, em parceria com o Tax Executive Institute, vemos que, na interação do ano em questão, o FOMO flui como uma forte corrente subjacente entre muitos departamentos tributários e fiscais corporativos.

Efetivamente, quase metade dos entrevistados disse sentir que seu departamento está com poucos recursos, um termo que teve um peso impactante ao longo do resto da pesquisa. Em apenas um exemplo crítico, departamentos fiscais com poucos recursos mostraram um risco muito maior de auditorias e penalidades, muitas vezes mais caras e prejudiciais do que as incorridas por departamentos com melhores recursos.

Quase metade dos entrevistados disse sentir que seu departamento fiscal está com poucos recursos, um termo que teve um peso impactante ao longo do resto da pesquisa.

Pode-se dizer que os departamentos com poucos recursos carregaram a sombra do FOMO com eles durante o resto do relatório. Com tecnologia e automação, enquanto mais de três quartos dos departamentos fiscais pesquisados disseram ter automatizado metade ou menos de suas operações, entre os departamentos com poucos recursos, essa parcela subiu para 88%. Na verdade, um tópico ao longo do relatório é que sempre que a população geral dos departamentos fiscais corporativos indicava uma estatística decepcionante – como seu nível de automação – os departamentos com poucos recursos superavam isso, muitas vezes em 10 pontos percentuais ou mais.

Essa preocupação mais profunda que alguns profissionais fiscais e tributários expressaram, refletia o medo de estarem de fora de desenvolvimentos tecnológicos cada vez mais importantes, além de recursos e contratações adequadas que permitiriam que o departamento funcionasse de forma muito mais eficaz, e até mesmo o medo de mudanças no mercado que poderiam resultar em sua empresa (e, por extensão, seu departamento fiscal) sendo engolido por um departamento maior, um concorrente mais abastado.

De fato, mais de dois terços desses profissionais tributários corporativos entrevistados disseram esperar que suas empresas passem por mudanças significativas nos próximos dois anos, seja uma mudança nas ofertas de produtos e serviços, seja uma reestruturação ou fusão. Essa profundidade de expectativa em torno da mudança de identidade provavelmente está tornando o trabalho diário de muitos departamentos fiscais um tanto complicado.

Mais de dois terços desses profissionais tributários corporativos entrevistados disseram esperar que suas empresas passem por mudanças significativas nos próximos dois anos.

Esse nível de incerteza ou o sentimento de ser deixado para trás se correlaciona diretamente com o FOMO. Entre os departamentos fiscais que não se veem acompanhando seus pares, com as expectativas de suas empresas ou do próprio setor tributário, o FOMO rapidamente se torna sua principal preocupação. Especialmente se tiverem poucos recursos, muitos departamentos podem sentir que não têm financiamento, colaboradores ou infraestrutura tecnológica para acompanhar.

O FOMO de alguns dos departamentos com poucos recursos, é claro, se reflete diretamente na pesquisa. Por exemplo, o recrutamento de profissionais tributários qualificados adicionais foi a terceira prioridade mais citada por todos os departamentos fiscais e tributários, com pouco mais de um terço dos entrevistados citando essa prioridade. No entanto, em uma indicação da gravidade de sua escassez de talentos, os departamentos com poucos recursos citaram essa prioridade em maior número, com quase metade dos entrevistados desses departamentos citando isso como prioridade.

E é improvável que esse problema do FOMO diminua para departamentos com poucos recursos. Na verdade, à medida que a tecnologia cada vez mais avançada – pense na inteligência artificial generativa – começa a ganhar mais aceitação e uso dentro do setor, esses departamentos podem muito bem sentir que serão ultrapassados em termos de capacidade operacional, deixando-os menos capazes de desempenhar suas funções a um nível que a empresa exige.

Naturalmente, essa subcorrente do FOMO não impactou todos os aspectos da pesquisa, nem afetou todos os departamentos fiscais corporativos da mesma maneira. Havia muitos pontos de estabilidade que relembravam as pesquisas de anos anteriores, incluindo como as principais metas primárias para o próximo ano – citadas por 70% dos entrevistados – tinham tudo a ver com melhoria operacional; e que as conquistas do ano passado em áreas de redução de custos, aumento da eficiência e diminuição das penalidades incorridas foram aquelas das quais muitos departamentos fiscais mais se orgulharam.

No entanto, com parcelas tão altas de departamentos fiscais corporativos se sentindo com poucos recursos, mal automatizados, tecnologicamente atrasados e incapazes de garantir o talento de que precisam, é difícil não sentir como se este ano pudesse ser um ponto de inflexão de desempenho entre departamentos fiscais corporativos com bons recursos e aqueles que, por causa de suas circunstâncias, continuam sentindo FOMO.

Principais Descobertas

Recursos e temores de falta de recursos - Os entrevistados de quase metade das empresas (47%) disseram sentir que seu departamento fiscal está com poucos recursos, o que aumentou muito o risco de auditorias e penalidades, entre outros desenvolvimentos negativos. De fato, enquanto 61% das empresas pesquisadas passaram por auditorias fiscais no ano passado, 72% das empresas com departamentos fiscais com poucos recursos o fizeram. E 47% das empresas com departamentos fiscais com poucos recursos incorreram em penalidades fiscais, em comparação com 42% de todas as empresas. Em ambos os casos, mais de um terço das empresas incorreu em seis ou mais auditorias e incorreu em penalidades de mais de US$ 50.000. Apesar disso, os entrevistados dizem que sua confiança na capacidade de gerenciar o risco fiscal permanece alta, especialmente entre as empresas com mais recursos.

Tecnologia & Automação - Os entrevistados classificaram a maturidade tecnológica de seus negócios como de baixa a moderada. Além disso, 41% disseram que seus departamentos adotam uma abordagem reativa à tecnologia, particularmente aqueles departamentos que têm poucos recursos ou de organizações de médio porte (empresas com receita anual entre US$ 50 milhões e US$ 6 bilhões). Mais angustiante, quase metade (47%) disse sentir que seus departamentos não têm recursos suficientes para fazer as melhorias tecnológicas necessárias. De fato, a automação de processos padrão está em um estágio incipiente, com 77% dos entrevistados dizendo que seus departamentos automatizaram metade ou menos de seus processos de trabalho.

Planejamento estratégico e prioridades – Muitos entrevistados observaram que seus negócios esperam fazer mudanças significativas nos próximos dois anos, com mais de dois terços dizendo que sua empresa planeja oferecer novos produtos ou serviços, passar por reestruturação ou se envolver em atividades de fusões e aquisições. E 62% disseram que antecipam que seus negócios se expandirão para novas jurisdições, particularmente nos setores de serviços e tecnologia, mídia e telecomunicações.

Outras áreas importantes – Há outros insights críticos observados no relatório em torno de áreas como gastos do departamento tributário e fiscal, uso de medidas e métricas de desempenho, e como as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) estão impactando os departamentos fiscais.

Principais metas para o próximo ano

Talvez não seja surpreendente, então, que as quatro principais metas dos departamentos fiscais corporativos para o próximo ano – citadas por 70% dos entrevistados – tenham tudo a ver com a melhoria operacional, incluindo a melhoria da eficiência e dos processos (32%); aquisição de software adicional (14%); automatização de processos (12%); e contratação de mais pessoal ou manutenção do quadro atual (12%).

Quando perguntados especificamente sobre suas metas para o próximo ano, muitos entrevistados falaram sobre a construção do que já começaram, como continuar a "ganhar eficiências operacionais por meio de uma melhor utilização da tecnologia e melhorar nossos sistemas de fluxo de trabalho para ganhar eficiências também", de acordo com um entrevistado.

Outro expressou querer "continuar a desenvolver tecnologia para aliviar a carga de relatórios". E outro sugeriu que seu departamento estava buscando construir "uma melhor automação dos processos fiscais, incluindo provisão de impostos e conformidade com impostos indiretos (incluindo faturamento eletrônico)".

Curiosamente, quando os líderes fiscais corporativos foram questionados sobre qual foi a conquista da qual suas equipes mais se orgulham no ano passado, vários ecoaram as mesmas metas que estavam planejando para o próximo ano. Quase um quarto (23%) disse que sua equipe estava mais orgulhosa de sua automação de processos por meio da implementação de novas tecnologias ou softwares. Outros 15% disseram estar mais orgulhosos de como a equipe tributária aumentou sua velocidade e eficiência em relação a arquivamentos, declarações de impostos e pagamentos. Outros 14% ainda disseram que contratar colaboradores adicionais e manter sua equipe existente foi a conquista mais orgulhosa do seu time.

Ao citar as especificidades do que deixou a equipe tão orgulhosa em relação a essas conquistas específicas, vários entrevistados da pesquisa citaram benefícios como redução de custos, aumento da eficiência e ainda menos penalidades aplicadas a sua organização.

Um entrevistado disse que a mudança da sua equipe a “software de tributário mais fácil de usar e simplificado" permitiu que eles tivessem "um fechamento mais rápido [e que] fizessem muito com poucos recursos alocados”.

Outro disse: "Melhoramos o processo de provisão fiscal e reduzimos os dias necessários para o fechamento".

Enquanto outro ainda explicou como sua equipe foi realmente capaz de reduzir seus custos de terceirização. "Antes terceirizávamos impostos para uma empresa de CPA e agora começamos a montar uma equipe tributária interna. Por causa dessa mudança, economizamos muito dinheiro em multas e juros, também limpamos muitas contas fiscais menores que antes eram negligenciadas."

Metodologia

O relatório anual de pesquisa State of the Corporate Tax Department da Thomson Reuters e do Tax Executives Institute é realizado com tomadores de decisão seniores em departamentos fiscais corporativos em todo o mundo para obter informações sobre as metas, desafios e prioridades do departamento para o futuro próximo.

A pesquisa deste ano foi feita por meio de uma pesquisa on-line de 15 minutos com 365 profissionais tributários seniores, realizada em junho e julho de 2023. A amostra foi extraída de listas fornecidas pela Thomson Reuters e pelo Tax Executives Institute, e os participantes foram examinados para garantir que eram tomadores de decisão em um departamento fiscal ou tributário corporativo.

A seguinte categorização do setor industrial foi usada ao longo do relatório:

  • Serviços — Serviços Empresariais, Engenharia, Hotelaria/Lazer, imobiliário;
  • Energia e Recursos Naturais — Energia/Serviços Públicos, Recursos Naturais (mineração), Alimentos/Agricultura/Pesca;
  • Finanças e Seguros — Banca, Serviços Financeiros, Seguros, Investimentos;
  • Farmacêutica, Bio e Saúde — Farmacêutica/Biociência, Saúde;
  • TMT — Tecnologia/Mídia/Telecomunicações;
  • Indústrias em Geral — Automotivo, Manufatura, Construção, Transporte/Logística/Distribuição;
  • Outros Setores — Governo/Setor Público, Sem Fins Lucrativos, Varejo/Atacado, Conglomerados, outro/nenhum setor primário.

Para obter mais informações sobre a demografia dos entrevistados individuais e seus departamentos fiscais corporativos, consulte o Apêndice 1 na página 26.

Confira o relatório na íntegra, em inglês, neste link.