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Indonésia no BRICS: oportunidades para o Brasil

O BRICS, grupo de nações emergentes com grande influência na economia global, expandiu seus horizontes com a recente inclusão da Indonésia.

Esta adição estratégica fortalece a representatividade do Sul Global e abre um leque de novas oportunidades, especialmente para o Brasil, que assumiu a presidência do bloco em 2025.

Neste artigo, analisaremos os impactos da entrada da Indonésia no BRICS, as prioridades da agenda brasileira para o bloco e as perspectivas futuras para essa parceria estratégica.

A expansão do BRICS e a entrada da Indonésia

A expansão do BRICS reflete a crescente importância das economias emergentes no cenário global. 

A entrada da Indonésia adiciona uma nova dimensão ao grupo, trazendo consigo uma economia robusta, uma população expressiva e uma posição estratégica no Sudeste Asiático.

Vamos explorar os detalhes dessa adesão e seu significado para o BRICS.

A origem e os objetivos do BRICS

O BRICS, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), surgiu no início dos anos 2000 a partir de uma análise do economista Jim O'Neill, que identificou o potencial econômico dessas nações emergentes. A sigla reflete as iniciais de cada um desses países, em inglês.

Com a inclusão da África do Sul em 2010, o grupo passou a se chamar BRICS, consolidando-se como um bloco de cooperação econômica, política e cultural.

O foco principal do grupo BRICS é promover a cooperação econômica, política e cultural entre seus membros, além de servir como uma plataforma para discutir questões de interesse comum, como desenvolvimento sustentável, reforma das instituições financeiras internacionais e promoção do comércio e investimentos entre os países membros. 

Atualmente, as cúpulas anuais do BRICS são importantes fóruns para a discussão de temas como desenvolvimento sustentável, reforma das instituições financeiras internacionais e a busca por uma governança global mais inclusiva.

Com a entrada da Indonésia, o BRICS agora é composto por onze membros plenos: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

Juntos, os países do BRICS representam um PIB combinado de 24,7 trilhões de dólares, demonstrando o significativo peso econômico do bloco no cenário global.

Segundo estimativas do Banco Mundial, o PIB da China chegou a US$ 17,7 trilhões em 2022, o segundo maior do mundo. A Índia ficou em sexto, com US$ 3,17 trilhões, seguida pela Rússia em 11º (US$ 1,7 trilhão), pelo Brasil em 12º (US$ 1,6 trilhão) e pela África do Sul em 32º (US$ 419 bilhões).

Durante a última cúpula do grupo, em outubro de 2024, foram convidados mais 13 países para se juntarem ao bloco: Turquia, Argélia, Belarus, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda. A adesão de Nigéria, Turquia, Argélia e Vietnã ainda está pendente de confirmação.

Espera-se que, em 2025, nove desses países se tornem membros formais, incluindo Cuba, Bolívia, Malásia e Tailândia. A Argentina, que inicialmente fazia parte da lista de convidados, optou por não participar do bloco após a posse de Javier Milei como presidente, em substituição a Alberto Fernández.

A Indonésia no cenário global

A Indonésia, detentora da maior população do Sudeste Asiático e a quarta maior do mundo, destaca-se por sua economia em ascensão, ocupando a oitava posição global. 

Este país-arquipélago, composto por cerca de 17 mil ilhas, é um reconhecido destino turístico, famoso por suas belas praias. 

A Indonésia tem apresentado um notável crescimento econômico, sendo considerada um dos países mais dinâmicos da Ásia, com uma expressiva redução da pobreza. De 2022 a 2024, o país registrou um crescimento médio do PIB de 5,1%.

Marcada por um passado colonial holandês de mais de 350 anos, a Indonésia conquistou sua independência em 1949, após um conflito armado. Essa experiência moldou a identidade nacional e a postura do país no cenário internacional, caracterizada por sua neutralidade geopolítica.

A Indonésia mantém relações diplomáticas sólidas tanto com os membros do BRICS, como China e Rússia, quanto com as potências ocidentais, a exemplo de Estados Unidos e União Europeia. Essa postura de neutralidade posiciona o país como um potencial moderador dentro do BRICS, capaz de equilibrar as relações entre o bloco e o Ocidente.

Assim como Brasil, Índia, África do Sul, Etiópia e Egito, o país também adota uma abordagem pragmática, buscando oportunidades em ambos os lados do cenário geopolítico, sem se alinhar rigidamente a um bloco específico. Essa flexibilidade pode contribuir para a redução das tensões entre o BRICS e o Ocidente, facilitando o diálogo e a cooperação em áreas de interesse mútuo.

A entrada da Indonésia no BRICS ocorre em um momento estratégico de expansão do bloco, com o objetivo de ampliar sua influência e representatividade. Analistas consideram essa adesão uma oportunidade para fortalecer as potências regionais do Sul Global.

Além disso, a Indonésia manifesta seu apoio à reforma das instituições de governança global e ao aprofundamento da cooperação Sul-Sul, temas que serão prioridades durante a presidência brasileira no BRICS.

A capacidade da Indonésia de navegar entre diferentes polos de poder representa um ativo valioso para o BRICS, permitindo ao bloco diversificar suas parcerias e atuar como uma ponte entre diferentes visões de mundo.

O processo de adesão da Indonésia ao BRICS

A adesão da Indonésia ao BRICS foi formalizada em 6 de janeiro de 2025, logo após o Brasil assumir a presidência rotativa do bloco.

Esse movimento concretizou um convite feito durante a cúpula de outubro de 2024, quando o BRICS expressou o desejo de expandir o número de membros, buscando aumentar sua influência e representatividade no cenário global. 

A aceitação do convite pela Indonésia representou um marco significativo na busca do BRICS por fortalecer o leque de potências regionais do Sul Global, incorporando um importante ator do Sudeste Asiático ao grupo.

O interesse do governo indonésio em aderir ao BRICS intensificou-se com a ascensão de Prabowo Subianto à presidência, em outubro de 2024, que se mostrou mais favorável à adesão do que seu antecessor. 

Assim, a entrada da Indonésia consolidou um processo de expansão que adicionou mais países ao bloco, e que já vinha sendo debatido em edições anteriores da cúpula do BRICS. 

A adesão da Indonésia, juntamente com outros países, sinaliza o fortalecimento da cooperação Sul-Sul, um dos pilares do BRICS, e seu crescente protagonismo no cenário internacional.

Impactos econômicos da entrada da Indonésia no BRICS para o Brasil

O Brasil já mantém um comércio significativo e crescente com os demais membros do BRICS:

  • A China se destaca como o maior parceiro comercial do Brasil dentro do bloco e no mundo, com um fluxo comercial baseado nas exportações brasileiras de commodities como minério de ferro, soja e petróleo, e na importação de produtos manufaturados e eletrônicos chineses. 
  • As relações comerciais com a Índia também têm se expandido, com oportunidades em setores como agricultura, energia e tecnologia, sendo o Brasil um exportador de óleo bruto e produtos agrícolas para o mercado indiano. 
  • Com a Rússia, o Brasil estabelece uma relação comercial que inclui produtos agropecuários e fertilizantes. 
  • Já o comércio com a África do Sul, embora menor em comparação com os outros membros, envolve veículos, maquinário e produtos químicos. 

No geral, o comércio entre o Brasil e os demais países do BRICS se caracteriza pela exportação de commodities brasileiras e a importação de produtos manufaturados e tecnológicos, demonstrando as vantagens comparativas de cada país e o potencial do bloco para promover o intercâmbio econômico.

E, com a entrada da Indonésia no BRICS, abrem-se importantes implicações econômicas para o Brasil, com novas oportunidades e perspectivas de crescimento. Vamos ver algumas: 

Diversificação comercial e redução da dependência

A Indonésia, com sua economia em ascensão e grande população, surge como um importante consumidor de produtos brasileiros, ampliando o mercado para as exportações nacionais.

Desta forma, a adesão da Indonésia ao BRICS permite ao Brasil diversificar suas relações comerciais. 

Balança comercial Brasil-Indonésia

A balança comercial entre Brasil e Indonésia apresenta um cenário promissor. 

Segundo dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), em 2023, as exportações brasileiras para a Indonésia somaram US$ 4,1 bilhões, com destaque para o setor agropecuário, que representou 93% dos produtos exportados em 2022, incluindo farelo de soja, açúcar, algodão, trigo e carne bovina. 

Ainda, de acordo com a mesma fonte, as importações de produtos indonésios pelo Brasil representaram 2,2% do total do país em 2023.

Além do comércio de commodities agrícolas, a parceria entre Brasil e Indonésia no BRICS pode abrir portas para a cooperação em outras áreas estratégicas. 

O Brasil, com sua expertise em agricultura e recursos naturais, pode colaborar com a Indonésia no desenvolvimento de tecnologias agrícolas sustentáveis e na otimização da produção de alimentos. 

Enquanto a Indonésia, com um setor industrial diversificado, incluindo calçados, aço, automóveis e peças, oferece oportunidades para o Brasil em termos de transferência de tecnologia e investimentos em manufatura. 

Sendo assim, a entrada da Indonésia no BRICS tende a fortalecer ainda mais esses laços comerciais, criando oportunidades de crescimento, especialmente para o agronegócio brasileiro. 

A complementaridade das economias brasileira e indonésia cria um ambiente favorável para parcerias mutuamente benéficas, que podem ir além do comércio tradicional e abranger investimentos conjuntos, inovação tecnológica e desenvolvimento de cadeias de valor globais.

O BRICS e o dólar: desafios e rumores

A relação do BRICS com o dólar americano é marcada por discussões sobre a busca por maior autonomia financeira e a redução da dependência da moeda americana, gerando especulações e reações internacionais.

A busca  por instrumentos de pagamento alternativos

Atualmente, o dólar americano é a principal referência global, e as transações internacionais, incluindo as do BRICS, geralmente exigem a conversão das moedas locais para o dólar. Essa dependência pode prejudicar as negociações, devido às flutuações cambiais e às políticas monetárias dos Estados Unidos, que impactam diretamente as economias em desenvolvimento.

Nesse contexto, as declarações do BRICS em Joanesburgo (2023) e Kazan (2024) enfatizaram a necessidade de diálogo entre os ministros da Fazenda e os presidentes dos Bancos Centrais dos países membros. O objetivo é desenvolver instrumentos de pagamento que facilitem o comércio e os investimentos entre essas nações.

Porém, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM) desmentiu os rumores sobre a criação de uma moeda única do BRICS e negou que o bloco tenha planos de "desdolarização". No entanto, o governo brasileiro reconhece o objetivo do BRICS de reduzir os custos das transações comerciais entre seus membros e outras nações do Sul Global.

Reações internacionais às iniciativas do BRICS

As discussões sobre alternativas ao dólar no comércio entre os países do BRICS geraram reações internacionais, especialmente dos Estados Unidos. 

O então presidente eleito Donald Trump, por exemplo, alertou sobre a possibilidade de impor tarifas de 100% sobre produtos do BRICS caso o bloco adotasse uma moeda alternativa ao dólar, o que evidencia as implicações geopolíticas dessas iniciativas para as relações comerciais globais.

A presidência brasileira no BRICS e as perspectivas futuras

A presidência brasileira do BRICS em 2025 se apresenta como uma oportunidade estratégica para o país influenciar a agenda do bloco e fortalecer sua posição no cenário internacional.

Vejamos:

Prioridades da agenda brasileira

O Brasil assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro de 2025, exercendo o mandato até 31 de dezembro do mesmo ano. Durante este período, o país lidera o bloco com o tema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável", promovendo discussões sobre governança global inclusiva, inteligência artificial, financiamento climático, entre outros temas.

As prioridades da presidência brasileira foram detalhadas em cinco pontos principais:

  • Facilitar o comércio e investimentos entre os países do BRICS, através do desenvolvimento de meios de pagamento;
  • Promover a governança inclusiva e responsável da Inteligência Artificial para o desenvolvimento;
  • Aprimorar as estruturas de financiamento para enfrentar as mudanças climáticas, em diálogo com a COP 30;
  • Estimular projetos de cooperação em saúde pública entre os países do Sul Global;
  • Fortalecer institucionalmente o BRICS.

Como presidente do bloco, o Brasil é responsável por organizar e coordenar as reuniões dos grupos de trabalho do BRICS, reunindo representantes dos países membros para discutir as prioridades da presidência. 

A cúpula do BRICS no Rio de Janeiro

A Cúpula do BRICS, prevista para julho de 2025 no Rio de Janeiro, será um momento fundamental para consolidar os avanços da presidência brasileira. Até lá, mais de 100 reuniões estão programadas para acontecer em Brasília, entre fevereiro e julho. 

A participação da Indonésia, como novo membro, adiciona uma dimensão importante às discussões, especialmente em temas como o desenvolvimento sustentável e a cooperação econômica regional.

Um novo capítulo para o BRICS e o Brasil

Como vimos, a entrada da Indonésia no BRICS marca um novo capítulo na trajetória do bloco, ampliando sua representatividade geográfica e econômica. 

Para o Brasil, essa adesão representa uma oportunidade estratégica para fortalecer as relações comerciais, diversificar seus parceiros e consolidar sua atuação no cenário global.

A presidência brasileira do BRICS em 2025, com foco na cooperação Sul-Sul e no desenvolvimento sustentável, ganha ainda mais relevância com a presença da Indonésia, abrindo caminho para novas parcerias e um futuro promissor para ambos os países dentro do bloco.