blogpost

Regulação da IA no Brasil: como ficam os direitos autorais?

A ascensão da Inteligência Artificial (IA) no Brasil tem impulsionado debates controversos sobre sua regulamentação, especialmente no que tange aos direitos autorais. 

Sua crescente utilização para a criação de conteúdos levanta questões sobre propriedade intelectual, autoria e remuneração justa para os criadores. Neste contexto, é essencial que profissionais do Direito compreendam os desafios e as oportunidades que emergem dessa interseção entre tecnologia e legislação.

Iniciativas governamentais na regulação da IA no Brasil

O Brasil tem dado passos importantes rumo à regulamentação da IA. Em 2021, foi lançada a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial, visando orientar o desenvolvimento e a utilização ética dessa tecnologia no país. 

Além disso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), promulgada em 2018, estabelece diretrizes fundamentais para o tratamento de dados pessoais, impactando diretamente o uso de IA. O Marco Civil da Internet também contribui, garantindo direitos e deveres no ambiente digital.

Entretanto, a ausência de uma legislação específica para IA continua sendo um desafio. O Projeto de Lei 2.338/2023, atualmente em tramitação no Senado, propõe um marco regulatório para a IA no Brasil, com diretrizes sobre transparência, responsabilidade e direitos autorais. 

Ainda há incertezas sobre como essa legislação abordará a questão do uso de obras protegidas para treinamento de IA e a autoria dos conteúdos gerados.

Desafios legais e éticos relacionados aos Direitos Autorais

A integração da IA em diversos setores levanta questões complexas sobre direitos autorais. Sistemas de IA capazes de gerar músicas, textos e imagens a partir de vastos conjuntos de dados suscitam dúvidas sobre a proteção dos criadores originais: 

  • Autoria das obras geradas por IA: atualmente, as leis de direitos autorais brasileiras pressupõem que uma obra protegida tenha sido criada por um ser humano. No entanto, quando uma IA gera um conteúdo original, a quem pertence a autoria? O desenvolvedor do algoritmo, o usuário que forneceu os prompts, ou a própria IA?
  • Uso de conteúdos protegidos para treinamento de IA: muitas IAs são treinadas utilizando bases de dados que incluem obras protegidas por direitos autorais sem a devida permissão. Isso levanta preocupações sobre possíveis infrações à legislação de copyright e a necessidade de compensação financeira para os criadores das obras originais.
  • Remuneração para autores originais: caso uma IA produza uma obra derivada de um conteúdo protegido, os autores originais devem ser compensados? Algumas propostas sugerem que seja criada uma taxa ou licenciamento obrigatório para permitir o uso de conteúdos protegidos no treinamento de IA.
  • Plágio e reprodução não autorizada: há também o risco de que modelos de IA reproduzam partes substanciais de obras protegidas, configurando plágio. A ausência de transparência nos dados utilizados para o treinamento das IAs torna difícil identificar quando uma criação é, de fato, original.

Compreendendo os direitos autorais

Os direitos autorais são prerrogativas conferidas aos criadores de obras intelectuais, garantindo-lhes o controle sobre o uso e a distribuição de suas criações. No Brasil, esses direitos são divididos em:

Direitos morais

Os direitos morais asseguram ao autor o reconhecimento da paternidade da obra e a integridade desta. Entre as principais prerrogativas estão:

  • O direito de reivindicar a autoria da obra;
  • O direito de opor-se a qualquer modificação que prejudique sua integridade ou afete sua reputação;
  • O direito de retirar a obra de circulação, se isso for do seu interesse.

Esses direitos são inalienáveis e vitalícios, o que significa que o autor nunca os perde, independentemente de cessão ou licenciamento dos direitos patrimoniais.

Direitos patrimoniais

Os direitos patrimoniais permitem ao autor explorar economicamente sua criação, autorizando ou proibindo reproduções, distribuições e outras formas de utilização. No Brasil, a proteção patrimonial dura toda a vida do autor e se estende por mais 70 anos após sua morte.

O problema surge quando conteúdos protegidos são utilizados por sistemas de IA sem que haja compensação ou reconhecimento do autor original. O desafio regulatório é garantir que essas obras não sejam exploradas de maneira injusta ou sem a devida autorização.

Equilíbrio entre inovação tecnológica e proteção de direitos

A inovação tecnológica proporcionada pela IA pode gerar benefícios significativos, mas também exige mecanismos que garantam a proteção dos direitos dos criadores. Regular a IA sem prejudicar a inovação é um dos maiores desafios enfrentados pelos legisladores.

Algumas soluções possíveis incluem:

  • Modelos de licenciamento para treinamento de IA: empresas poderiam pagar taxas para acessar bancos de dados protegidos por copyright.
  • Transparência na origem dos dados utilizados por IA: plataformas de IA deveriam fornecer detalhes sobre as fontes de dados utilizadas.
  • Uso de tecnologias de rastreamento: implementação de marcas d'água digitais ou metadados que permitam identificar conteúdos gerados com base em obras protegidas.

Além disso, a regulamentação da IA deve ser flexível o suficiente para permitir o desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas, mas sem comprometer a remuneração justa dos criadores.

Caso Thomson Reuters: o precedente legal para direitos autorais e IA

Recentemente, nos Estados Unidos, a Thomson Reuters venceu uma disputa judicial contra a Ross Intelligence, que utilizou conteúdo protegido para treinar seu modelo de IA. A sentença estabeleceu um precedente importante ao afirmar que o uso de material protegido por copyright para treinar uma IA pode constituir infração.

Essa decisão tem implicações relevantes para o Brasil. O caso reforça a necessidade de criar regulamentações específicas que estabeleçam limites claros sobre o uso de conteúdo protegido por direitos autorais em modelos de IA. Além disso, demonstra a importância de soluções que garantam a segurança jurídica e a qualidade do conteúdo gerado por inteligências artificiais.

A decisão também sugere que outras empresas que treinam modelos de IA com dados protegidos poderão enfrentar processos semelhantes. A questão que se coloca para o Brasil é: como adaptar essa experiência ao nosso ordenamento jurídico para garantir a proteção dos direitos autorais sem impedir o avanço da IA?

A necessidade de equilíbrio no direito autoral

A regulação da IA no Brasil é um desafio complexo que exige a atenção dos profissionais do Direito. Garantir a proteção dos direitos autorais enquanto se promove a inovação tecnológica é fundamental para um desenvolvimento equilibrado e ético da sociedade.

O recente caso da Thomson Reuters demonstra que o debate sobre IA e copyright está longe de ser resolvido. No Brasil, é essencial que os legisladores criem normas que estabeleçam diretrizes claras para o uso da IA, garantindo segurança jurídica tanto para os criadores de conteúdo quanto para os desenvolvedores de tecnologias baseadas em IA.

Quer saber mais sobre os desafios da IA no Direito? Baixe agora o nosso Ebook e confira! 

Simplifique o complexo com a Legal News!

Fique à frente com informações confiáveis e insights essenciais do mercado jurídico

Ao enviar seus dados, você concorda em receber nossas atualizações. Você pode cancelar sua assinatura a qualquer momento.